A poesia potiguar está de luto. Morre o "Poeta Astral"

 


Astral foi poetar noutras esferas
Soube logo cedo, pelas redes sociais, da morte de Carlos Frederico de Oliveira Lucas da Câmara. Dito assim, quase ninguém reconhece. Mas basta dizer “poeta Astral” e quem viveu a cena cultural de Natal sabe bem de quem se trata.
À tarde, passei no Sebo Vermelho para confirmar com Abimael Silva. Infelizmente, era verdade. Conversamos um pouco, lamentamos mais essa perda, e Abimael puxou da memória algumas histórias saborosas em que Astral era o protagonista.
A Cidade Alta perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas. Astral tinha alma e aura de poeta. Sua presença já anunciava poesia. Quem o conheceu sabe do que estou falando. E mesmo que nunca tivesse publicado um único verso, ainda assim mereceria ser chamado de poeta.
Mas ele publicou. Conheci Astral nos anos 1980, quando lançou seus livros de poemas Visões de um mundo (1983), Sublimes seres humanos (1984) e Percepções (1985). Eu trabalhava na Tribuna do Norte e cobria os lançamentos, como fazia com todos que vinham do nosso circuito cultural.
Foi um dos fundadores do jornal alternativo Delírio Urbano, ao lado de Novenil, João da Rua e Afonso Martins. A edição era de Marcus Ottoni. O jornal teve vida curta, apenas três edições, mas deixou sua marca.
Sempre que me encontrava, e eu estava com outras pessoas, Astral fazia questão de lembrar que eu tinha escrito sobre seus livros. Era seu jeito afetuoso — e talvez também um gesto de gratidão.
Nunca chegou nem perto de fazer parte do cânone literário potiguar — e, ao que tudo indica, isso nunca o incomodou. Poetava à margem, sem aplausos, mas com convicção. Proclamava-se poeta e assim eu o tratava, com respeito e afeto.
Siga em paz, poeta Astral. Que outras esferas recebam tua poesia.

Jornalista Tácito Costa