Brasil substitui vacina oral contra poliomielite por versão injetável
A vacina oral contra poliomielite (VOP) será descontinuada no Brasil em cerca de dois meses, sendo substituída pela vacina inativada (VIP), administrada de forma injetável. A mudança, prevista para ocorrer até 4 de novembro, segue orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI).
De acordo com a médica Ana Frota, representante do Comitê Materno-Infantil da Sociedade Brasileira de Infectologia, a VOP contém o vírus atenuado, o que, em locais com más condições sanitárias, pode gerar casos de pólio derivados da própria vacina, ainda que sejam menos comuns que os causados pelo vírus selvagem. Em uma conferência sobre imunizações realizada no Recife, Frota explicou que, quando os casos derivados da vacina se tornam mais frequentes que a doença original, é necessário rever a estratégia de imunização.
A substituição da VOP pela VIP também segue uma tendência global. Segundo Frota, o uso da vacina oral será limitado a surtos específicos, como o ocorrido recentemente na Faixa de Gaza, onde houve quatro casos de paralisia flácida, sendo um confirmado como pólio.
Entre 2019 e 2021, 67 milhões de crianças no mundo deixaram de receber doses completas de vacinas, segundo a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização, que precisou interromper a vacinação contra pólio por quatro meses durante a pandemia de COVID-19. Frota também mencionou que fatores como emergências humanitárias e conflitos dificultam a cobertura vacinal em diversas regiões.
Em 2023, o Ministério da Saúde anunciou que a VIP será aplicada exclusivamente no reforço dos 15 meses, substituindo a dose oral. A VIP já fazia parte do calendário de vacinação infantil aos 2, 4 e 6 meses. Com isso, o reforço antes administrado aos 4 anos não será mais necessário, pois o esquema vacinal com quatro doses será suficiente para proteger contra a poliomielite.
A mudança considera dados epidemiológicos, evidências científicas e orientações internacionais. O Brasil não registra casos de poliomielite desde 1989, mas as taxas de cobertura vacinal têm diminuído nos últimos anos.