Preço de alimentos varia 12% em Natal

 


Encher o carrinho na hora de fazer as compras está requerendo cada vez mais dinheiro para quem vai ao supermercado e a pesquisa mensal do custo médio da cesta básica em Natal, elaborada pelo Instituto Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor – Procon Natal, constatou que nos grandes supermercados a diferença no preço médio da cesta básica chega a 12,9% entre os estabelecimentos. Até dentro da mesma rede os preços do mesmo produto variam.

A pesquisa foi publicada na última sexta-feira (3), e apontou que na última semana do mês de agosto, entre os dias 23 e 31, o preço médio da cesta básica nas grandes redes de supermercados (Nordestão, Carrefour, Big Bompreço, Favorito, Extra), pesquisadas pelo Procon, ficou em R$ 385,14, bem maior do que nos mercados de bairro (Rede Mais, Super Show, Parceiros da Economia, Bom Dia), cujo valor ficou em R$ 364,13 e dos atacarejos (Assaí, Atacadão, Mineirão, Super Fácil, Maxxi) que fecharam o mês com um preço médio de R$ 334,91 da cesta básica.

O levantamento também apontou que durante algumas semanas os estabelecimentos têm preços melhores e isso se dá pelas promoções em dias determinados pelos estabelecimentos. Entre os grandes supermercados e hipermercados pesquisados, o preço médio da cesta básica variou de R$ 362,21 no  Supermercado Favorito, da Avenida Engenheiro Roberto Freirem, na zona Sul de Natal, para R$ 408,96 no Big Bom Preço, do Barro Vermelho, na zona Leste.

Nas redes que possuem lojas em áreas distintas da cidade também há diferenças. No Nordestão da Avenida Engenheiro Roberto Freire a cesta teve um custo médio de R$ 369,63 em agosto, ficando R$ 23,47 mais barata do que na unidade da zona Norte, cujo preço foi de R$ 393,10. O mesmo ocorreu na rede Carrefour. Enquanto na unidade da zona Sul o custo foi de R$ 376,85, na zona Norte era R$ 382,49.

A pesquisa percorreu 19 estabelecimentos nos segmentos de atacarejo, supermercados de bairros e grandes redes de hipermercados, consultando preços de 40 produtos divididos nas categorias de mercearia, açougue, hortifruti e higiene/limpeza.

Produtos

A diferença de preços também chama a atenção entre os produtos pesquisados. Nessa última semana de agosto, o feijão, por exemplo, apresentou uma diferença de R$ 1,50 entre os supermercados e no macarrão a economia chega a R$ 1,09 entre lojas de uma mesma rede.
Já o óleo de soja e  a margarina, dois dos produtos que  mais aumentaram de preço nos últimos meses, tiveram uma diferença de R$ 1,40 e R$ 1,60, respectivamente, entre os supermercados.

O quilo do pão francês apresentou variação quilo de R$ 2,51; a do ovo  chegou a R$ 3,79; o quilo da carne bovina (alcatra sem osso), a R$ 16,50; e o frango congelado teve uma diferença de R$ 4 em supermercados localizados na mesma avenida.

Consumidores verificam a inflação no bolso

O custo da Cesta Básica tem seguido em alta na capital potiguar. No último mês de julho, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – IDEMA, através da Coordenadoria de Estudos Socioeconômicos – CES, apontou uma uma variação positiva de 1,21% em relação ao mês anterior.

O dado descreve em números o que a designer de sobrancelhas Mariane dos Santos, de 31 anos, sente toda vez que vai às compras. O orçamento dela se tornou insuficiente para garantir a feira porque, em cada ida ao mercado, os produtos parecem estar mais caros. “Tenho sentido uma alta muito rápida dos alimentos. A gente vem hoje no mercado e é um preço. Amanhã já tem aumentado. Por exemplo, o feijão a gente compra por R$ 6 e na semana seguinte já é R$ 8. E com isso a gente não sabe controlar porque se hoje gasto R$ R$ 500, amanhã eu já gasto R$ 800”, relatou.

Mariane mora com o filho e disse que há um ano reservava R$ 300 para a feira que abastecia os dois por um mês. “Hoje em dia preciso de R$ 600 a R$ 700 para conseguir passar como antes. Dobrou minha despesa em um ano, mais ou menos. Tenho precisado fazer trabalho extra. Faço trufas para vender e até para isso é complicado porque também precisa comprar os ingredientes das trufas e esses produtos aumentam com frequência o preço”, relatou.

Para tentar driblar essas dificuldades, dona Maria da Paz, de 59 anos, contou que está substituindo alguns produtos cujos preços se tornaram inviáveis para seu orçamento. “O grosso da feira, como um todo, subiu. O ovo teve aumento grande e carne a gente nem compra mais. Troquei pelo frango, que também subiu o preço. Como tudo tem aumentado, saio pesquisando de supermercado em supermercado porque está tudo caro e em todo canto. Com R$ 1 mil eu passava o mês e agora tenho que acrescentar de R$ 400 a  R$ 500 para fazer a mesma feira”, declarou.  Ela está agindo conforme orientam economistas, pesquisando entre os supermercados antes de efetuar as compras.

Economistas apontam causas da alta nos preços
O economista Robespierre do Ó explicou que vários fatores estão influenciando a alta no preço dos alimentos. “A seca, o dólar, as exportações de 
mercadorias como açúcar, soja, milho, petróleo, que provocam falta no mercado nacional, ou seja, o produtor brasileiro prefere vender para o exterior e ganhar em dólar do que para o mercado interno”, disse ele.

Mas, se de um lado o consumidor tem que consultar os preços em supermercados diferentes, por outro ele defende medidas de Governo para controlar a inflação. “O ideal seria que o Governo Federal tivesse estoques reguladores que no momento de alta soltaria esses produtos equilibrando o mercado. Mas o Governo deixou de ter esse mercado regulador há anos. É a compra, por exemplo, de milho, açúcar, soja, para num momento como esse soltar e equilibrar as importações e exportações. Os Estados Unidos fazem isso”, ressaltou o economista.

Além disso, ele defende a adoção de políticas para proteger a população mais vulnerável para que tenham acesso a alimentação digna.  O mesmo pensamento é corroborado pelo economista Cláudio Barbosa. Ele disse que uma das saídas seria a redução das exportações  de commodities. “Nossas commodities, dentre outros, são produtos que servem como a matéria-prima para fabricação de terceiros, como é o caso do milho que serve de insumo para o leite e para carne. Dessa forma, uma saída é aumentar nossos estoques proporcionando melhores condições à mesa, com arroz, feijão, óleo e leite, itens básicos da alimentação brasileira. Acrescente-se de imediato, a expansão do auxílio emergencial de R$ 600 em circulação. Isso daria um maior poder de compra às famílias”, pontuou.

Bate-papo com Henrique Clementino de Souza
administrador e especialista em mercado financeiro
“É possível economizar com novos hábitos”

Quais fatores o senhor aponta para a alta no preço dos alimentos?
As altas mensais expressivas na inflação verificada nos últimos quatro meses, pandemia, altas sucessivas do dólar, crise hídrica que leva a sobretaxação da energia elétrica e a variação do preço do petróleo. O impacto da covid-19 aumentou a permanência das pessoas em casa e a demanda por alimentos cresceu. Os preços subiram mais por influência do câmbio no Brasil, a elevação do dólar. Houve ênfase na exportação e uma demanda maior internamente com oferta menor. Os principais responsáveis pelo efeito dominó de derrubada do poder aquisitivo foi a energia elétrica, gás de cozinha e combustíveis.

Nesse contexto, qual a tendência para os próximos meses?
A tendência é até final de 2021 a inflação ficar acima do limite definido pelo Conselho Monetário Nacional, batendo a casa dos 6,79% ao ano. O teto estipulado era de 5,25%. Exemplo disso foram as inflações medidas pelo IPCA referente a agosto que foram de 0,86% e de julho 0,96%, maiores do que o mesmo período do ano passado  e os maiores valores expressos com relação aos últimos cinco anos. A perspectiva é de que até dezembro o IPCA fique mais estável, mas a inflação deve permanecer em patamares altos.

A inflação está mais democrática atingindo também o orçamento dos mais ricos?
Não. A inflação dos alimentos inegavelmente exerce influência sobre aqueles que possuem poder aquisitivo maior, pois há outras contas a serem consideradas mensalmente que os fazem repensar os hábitos de consumo, mas que isso ocorre apenas em caráter de substituição de produtos e serviços de maior qualidade pelos de menor qualidade. Mas não chega ao ponto de fazer com que deixem de consumir tais itens. Diferentemente dos indivíduos das classes C, D e E, que devido à expressiva elevação dos preços, têm até mesmo que decidir por cortar o consumo de alguns itens.

Qual a orientação para o consumidor driblar essa inflação dos alimentos?
As projeções de inflação não são otimistas, mas é possível economizar com hábitos, como fazer compras coletivas no condomínio, entre membros da família. No caso de não ser possível, é interessante não proceder compra para o mês inteiro, mas, sim, semanalmente para que possa aproveitar promoções que impactem menos no orçamento em função de preços diferenciados em determinados dias da semana. Além disso, adotar medidas saudáveis de alimentação, buscando alternativas mais baratas paralelamente pensadas de forma simultânea, substituindo os alimentos de preços mais altos pelos mais baratos, mas de mesma importância nutricional. Cortar todos os que sejam processados e supérfluos ao que se tem na cesta básica e realizar pesquisas de preço que podem ser feitas pela internet e aplicativos para saber acerca dos preços.

TRIBUNA DO NORTE