'País quer garantir a pacificação e tranquilidade', diz Michel Temer

 


O ex-presidente Michel Temer afirma que o país precisa de pacificação e tranquilidade para que possa enfrentar os problemas econômicos e retomar o crescimento. Ele diz que foi essa a sua motivação, ao atender as solicitações para tratar com o presidente Jair Bolsonaro sobre a crise após os discursos do dia 7 de setembro.

“O país está em um momento de muita preocupação. E o que fiz, a partir do telefonema dele [Jair Bolsonaro] e com outros contatos que mantive,  foi para pacificar. Ou pelo menos pregar a pacificação do país, que não suporta mais essa brutal discordância que existe entre instituições, entre pessoas. Precisamos de certa tranquilidade”, afirma Michel Temer nesta entrevista. 

Ele avalia que o teor da nota divulgada pelo presidente, na quinta-feira, na qual Bolsonaro mudou o tom, disse que vai cumprir as decisões juidiciais e que não tem intenção de atacar o Supremo Tribunal Federal, teve um efeito positivo. “Acho que foi útil para pacificar as relações, especialmente, entre os Poderes. Até porque um dos tópicos principais foi sobre o ministro Alexandre de Moraes”, destacou.  Segundo Michel Temer, na sexta-feira, Bolsonaro agradeceu a atuação dele no episódio.

Com o senhor avaliou as declarações do presidente, antes de ser convidado para conversar com ele e de tratar sobre a nota para amenizar a situação crítica?
Evidentemente, quando ele fez aquele discurso, achei que não foi guiado pela prudência. Especialmente quando chamou o ministro do Supremo de canalha. Considerei que não foi útil para ele. Tinha muita gente [nas manifestações]. Mas o discurso, realmente, não ajudou. Mas isso, até confesso, a esta altura é algo do passado, tendo em vista o que foi produzido depois, quando ele me telefonou e conversamos. A partir daí acabei indo para Brasília, conversei e levei algumas sugestões de declarações, acertamos e ele acabou divulgando. 

E as implicações da divulgação desta nota que foi elaborada?
Acho que foi útil para pacificar as relações, especialmente, entre os poderes. Até porque um dos tópicos principais foi sobre o ministro Alexandre de Moraes.  

Quais os outros efeitos que pode ter o documento?
Efeitos bastante positivos, porque revela que ele obedece as decisões judiciais, não agride o ministro Alexandre de Moraes, ao contrário elogia. De modo que neste sentido, é muito oportuna.

O que acontece se o presidente não mantiver este tom conciliador? 
Bom, não sou futurólogo. Mas, de toda maneira, foi um documento escrito. Então, tenho a sensação de que ele levará isto até o fim. Se não cumprir, o problema será mais dele do que daqueles aos quais se dirigiu. 

Qual a avaliação do senhor sobre o atual momento do país?
O país está em um momento de  muita preocupação. E o que fiz, a partir da ligação felefônica dele e dos outros contatos que mantive, foi para pacificar. Ou pelo menos pregar a pacificação do país. O país não suporta mais essa brutal discordância entre instituições, entre pessoas. Precisamos de tranquilidade. 

O que pensa com relação a 2022 para o MDB?
Desejando eleições tranquilas e que ao eleito seja dada posse. E o MDB vai esperar um pouco para definir o que fará. São informações que tive quando conversei.

O senhor defende a terceira via?
Digo que a terceira via é uma homenagem ao eleitor.  Se o eleitor não quer um dos polos que estão presentes, tem direito a uma terceira opção. 

Ao ter aconselhado o presidente com a pacificação do ânimos, significa de alguma forma entrar ou se aproximar  do governo?
Não, imagine. Isso seria uma visão menor do problema. Fiz algo pensando no país. Não tem nenhuma relação com partido. Foi algo apartidariamente. Nada com partido nenhum. Foi instado para entrar um pouco nisto e verificar se ajudo na harmonia entre as instituições e as pessoas. Não tem nada com MDB e outros partidos. 

De situação intolerável ao diálogo cordial
O ex-presidente da República Michel Temer revelou como foram os bastidores de sua conversa com o presidente Jair Bolsonaro que culminaram na carta de harmonização entre os poderes assinada pelo Chefe do Executivo. Segundo Temer, em um contato inicial o qual o presidente lhe permitiu que falasse "sem cerimônia", ele afirmou que o discurso de Bolsonaro no dia 7 de setembro, durante atos pró-governo, não foi "muito bom", e considerou impróprios os xingamentos do presidente contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. "Ninguém fala com um ministro do Supremo daquele jeito", declarou.

De acordo com Temer, "na tentativa de encontrar solução" para a "situação intolerável" da crise entre os Poderes, ele próprio tomou a iniciativa de redigir a carta, que mais tarde seria assinada pelo presidente. Temer afirmou que, após compartilhar o documento com Bolsonaro, o presidente o convidou para almoçar em Brasília, na tarde de quinta-feira, 9, e, após o almoço, pediu para o ex-presidente esperar duas horas para aprovar com sua equipe a nota sugerida. Temer disse que Bolsonaro alterou apenas uma sentença do documento original.

O ex-presidente também foi responsável pela intermediação de um telefonema entre o presidente Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes. Em uma conversa amigável, como classificou Temer - que durou cerca de 15 minutos -, Bolsonaro justificou ao magistrado que seus ataques contra ele nas manifestações aconteceram "no calor do momento".

Ao narrar a conversa entre o chefe do Executivo e o magistrado, Temer disse que Bolsonaro enfatizou que não tem "absolutamente nada" pessoal contra o ministro, e que suas divergências se concentravam apenas no campo jurídico. No entanto, o presidente ponderou, segundo conta Temer, que tais conflitos poderiam ser solucionados.

"Você sabe que aquilo (ataques) foi calor do momento, evidentemente não tenho essa impressão do senhor", narrou Temer sobre as falas de Bolsonaro. Apesar do reconhecimento dos excessos cometidos, o ex-presidente disse que Bolsonaro não pediu desculpas ao magistrado.

Na avaliação de Temer, Moraes foi "muito cordial" na conversa e enfatizou que não quer tensionar as relações com o Executivo. "São apenas questões jurídicas", justificou o ministro sobre suas recentes decisões na Corte Suprema.

"Foi um momento muito útil", classificou Temer. O ex-presidente ainda disse que não esperava uma repercussão tão intensa sobre o documento. Segundo ele, o tom otimista do País após a divulgação do documento mostra "como a opinião pública estava muito ansiosa por uma solução, para encontrar um caminho". "Quem sabe este pode ser um caminho." Em tom otimista, Temer afirmou que tudo indica que Bolsonaro pautará suas ações com base no que está escrito no documento produzido.

TRIBUNA DO NORTE