'Sentia que estava no meu último fôlego de vida', diz sobrevivente da tragédia de Mãe Luiza

 


"Eu estava ali clamando a Deus naquele momento, e aí eu senti muita dificuldade para respirar. Eu sentia que eu estava no meu último fôlego de vida. Eu não tinha mais forças, sabendo que já estava morrendo naquele momento, quando eu senti que alguém tirou algo de cima de mim, da minha cabeça, e eu pude olhar para cima e respirar profundo. Naquele momento eu falei para eles: 'estamos vivos'".

O relato é da professora Márcia Maria Barbalho Souza, de 51 anos, uma das sobreviventes do desabamento que matou quatro pessoas no bairro Mãe Luiza, na Zona Leste de Natal, na madrugada de domingo (7).

Entre as vítimas que foram soterradas após a explosão e o desabamento, apenas ela e o marido, Aldo Américo Souza Filho, de 60 anos, conseguiram sobreviver. A casa em que eles moravam também desabou após a edificação com quatro imóveis sofrer com uma explosão e desmoronar inicialmente.

Os dois precisaram ser conduzidos para o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal. Márcia teve dois cortes profundos na cabeça e feriu a perna. Aldo teve as costas machucadas e também uma parte do rosto, próxima aos olhos, atingida.

O medo perseguiu os dois durante o período em que ficaram soterrados, já que quanto mais o tempo passava, mais havia dificuldade para respirar.

"Era desespero, pedindo que eles (a população e os bombeiros) nos ajudassem, porque não estava suportando mais tanta dor. E eles conseguiram nos tirar dessa situação", conta Aldo.

"Eu estava soterrado. Tinha algo em cima de mim, impedindo a circulação de ar. Mas acho que se formou alguma bolsa de ar que deu a oportunidade de eu respirar".

Os dois sobreviveram, mas lamentaram muito as perdas dos vizinhos, por quem carregam muito carinho.

"Eu lamento demais. Eram pessoas queridas, meus amigos. Na comunidade, nós somos muito unidos, apesar de alguns preconceitos criados pelo bairro por ser periferia, mas é um pessoal que é muito irmanado. Foram pessoas de outras ruas tentando socorrer de toda maneira", disse Aldo, que também é professor.

"Também estou muito triste pela perda dos nossos vizinhos, pessoas queridas, que não tiveram a chance que a gente teve. Mas que Deus possa dar conforto àquelas famílias", reforçou Márcia.

Os bombeiros, inclusive, elogiaram a solidariedade dos moradores de Mãe Luiza que auxiliaram as equipes durante o resgate. Todos os corpos foram resgatados entre 3h30 e 6h. Às 7h15 a operação foi encerrada.

Nesta terça-feira (9), os bombeiros recolheram um fogão entre os escombros e o levaram para análise do Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep). "Nós encontramos o fogão bem danificado e nós levamos esse material, que estávamos em busca dele, para Itep, que levou para análise. A princípio, o que a gente pode dizer é isso. Não temos como concluir nada ainda no local da explosão", explicou o aspirante Miranda.

Recomeço e ajuda

O casal vê o novo momento como uma chance de recomeçar a vida. "Temos muitos sonhos. Vamos recomeçar. Deus vai nos dar forças pra gente lutar, trabalhar. Porque o material é o de menos, o mais importante é a vida. E estamos aqui", fala Márcia.

O professor Aldo Américo também elogiou a solidariedade das pessoas, mas pediu que toda a ajuda que pensaram destinar a eles seja direcionada aos parentes das pessoas que morreram.

"Eu tenho como recomeçar minha vida. Mas tem pessoas que perderam seus entes, não tem mais nada, tudo destruído. E é tudo que eu posso fazer. Pedir a Deus que conforte o coração dos enlutados, porque a comunidade está muito triste com esse acontecimento", disse.

"Bens materiais a gente recupera. Eu sempre fui um batalhador. Desde criança minha mãe me ensinou a ser um homem digno, trabalhar. Desde os 14 anos eu trabalho e eu não sei se um dia vou aposentar, porque eu não consigo. Tenho certeza que Deus vai me devolver tudo aquilo".

Tragédia

Quatro pessoas morreram na explosão que culminou com o desabamento de cinco casas no bairro de Mãe Luiza, na madrugada deste domingo (7). O acidente aconteceu por volta das 3h30 da madrugada no cruzamento entre as ruas Alto da Colina e IV Travessa João XXIII.

As vítimas fatais, todas mulheres, foram identificadas como:

Maria Teresa Cristina da Silva, 49 anos

Taís Silva de Oliveira, 18 anos

Maria das Graças Idelfonso, 57 anos

Maria Luiza Belarmino, 44 anos

Maria Teresa Cristina da Silva e Taís Silva de Oliveira eram mãe e filha.

Segundo o Corpo de Bombeiros, a casa em que aconteceu a explosão era uma edificação compartimentada e desabou completamente. Os parentes das famílias explicaram que a estrutura era dividida em duas casas no andar superior e duas no andar inferior. Além de todas desabarem, uma casa vizinha também foi atingida, exatamente a que Márcia e Aldo, o casal de sobreviventes, morava.

Dois botijões de gás já haviam sido encontrados nos escombros e estão em análise no Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep). Quatro casas vizinhas foram interditadas pela Defesa Civil.

G1 RN