Ao bom Deus: gratidão - Artigo de Dom Jaime Vieira Rocha



Semana passada, especificamente no dia 6 de janeiro, celebrei o meu Jubileu de Prata de Ordenação Episcopal. A celebração aconteceu na Catedral Metropolitana e contou com alguns bispos do Regional Nordeste II, mais de 100 padres, diáconos permanentes e transitórios, religiosos e religiosas, seminaristas e demais membros do povo de Deus. Foi um momento gratificante, elevei ao bom Deus, por meio de seu Filho e na unidade do Espírito Santo, um hino de louvor e gratidão por ter-me guiado nestes 25 anos, como fez em toda a minha existência. Celebrar e agradecer é uma das mais fortes características do cristão: ele reconhece que sua vida é dom de Deus e o que Ele realiza através do ministério ao qual foi chamado.

Sabemos que o tempo em que estamos é muito preocupante. Abalados pela pandemia, sofridos pelas perdas de tantos irmãos e irmãs, experimentando medo e angústia pela situação da realidade da saúde em nosso País, somos exortados pela Palavra de Deus a não desesperar, mas sim ter confiança. Confesso a todos: a confiança em Jesus Cristo sempre me acompanhou. Por isso, escolhi como lema de meu Episcopado a frase de São Paulo, na exortação que fez ao seu colaborador Timóteo: “É por isso que estou suportando também os presentes sofrimentos, mas não me envergonho. Pois sei em quem acreditei (scio cui credidi), e estou certo de que ele é poderoso para guardar até aquele dia o bem a mim confiado” (2Tm 1,12).

Esta é uma feliz oportunidade para refletirmos sobre uma das virtudes mais belas do ser humano: a gratidão. Ela faz parte sobretudo do homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Os santos afirmavam a beleza da gratidão como virtude que enobrece a pessoa e uma atitude que brota do coração de quem se sente amado por Deus. Diz Santo Agostinho: “que coisa melhor podemos trazer no coração, pronunciar com a boca, escrever com a pena do que estas palavras: ‘graças a Deus’? Não há nada que se possa dizer com maior brevidade nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior elevação, nem realizar com maior utilidade”. Podemos lembrar também que o próprio Jesus elogiou o leproso que retornou para agradecer a cura (cf. Lc 17,11-18). E ainda: não esqueçamos que o sentido da celebração da Eucaristia é o de ação de graças, agradecimento a Deus por Jesus ter dado a sua vida em resgate de muitos.

A gratidão está muito ligada à alegria. Quando nós acolhemos o dom de Deus, com alegria, quando vivenciamos a missão com amor, quando agradecemos a Deus por ter-nos escolhido para fazer parte de sua família, estamos vivenciando a gratidão. São Paulo se expressa com termos parecidos quando, mesmo sabendo das dificuldades de sua missão nas comunidades primitivas, reconhece que sua missão era a de dar testemunho do evangelho da graça de Deus (At 20,24).

Um dos grandes motivos de gratidão que quero expressar, além da amizade e da colaboração de tantos leigos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, para os quais devoto minha estima e consideração, é a minha alegria e satisfação de pertencer ao povo santo de Deus. “Como ministro ordenado, o Bispo não deixa de ser parte do povo de Deus. Por isso, a inserção sacramental do Bispo no mistério de Cristo é, ao mesmo tempo, inserção no mistério da Igreja” (CNBB. O Magistério dos Bispos. Subsídios Doutrinais 11. Edições CNBB, 2020, p. 22).

Por isso, quero agradecer ao bom Deus pelo dom recebido: o de ser sucessor dos Apóstolos, de fazer parte do Colégio dos Bispos. E mais, quero agradecer porque a minha vida está identificada com Cristo e configurada a Ele pela participação no seu sacerdócio a mim confiado. Graças a Deus! Seja louvado e glorificado o nome do Senhor. Amém.

Dom Jaime Vieira Rocha - Arcebispo Metropolitano