Neurocirurgião aponta os perigos do "sedentarismo tecnológico"
Quem nunca sentiu aquela fisgada incômoda no pescoço após horas deslizando o dedo pela tela do celular? O que parece um desconforto passageiro pode ser o alerta de problemas sérios na coluna, impulsionados por um fenômeno cada vez mais comum: o "sedentarismo tecnológico", já considerado uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a prevalência de dor crônica (37%) supera a média mundial de 35%, um dado alarmante.
O neurocirurgião e cirurgião de coluna Marco Moscatelli alerta para o crescente número de jovens desenvolvendo patologias na coluna vertebral, diretamente relacionadas ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos e à má postura, condição conhecida como "text neck". "A tecnologia veio para facilitar nossas vidas, mas a dependência e o uso inadequado estão cobrando um preço alto para a saúde da nossa coluna, especialmente a cervical”, explica o especialista.
Moscatelli detalha como essa dinâmica se instala no cotidiano: "Passamos horas curvados sobre smartphones, tablets e computadores, muitas vezes em posturas inadequadas. Essa inclinação constante da cabeça exerce uma pressão enorme sobre a coluna cervical." Para ilustrar o impacto, ele cita um dado alarmante: "Em posição ereta, o crânio exerce uma força de cerca de 6kg sobre a coluna. Ao inclinarmos a cabeça em um ângulo de 45 graus para olhar o celular, essa força salta para aproximadamente 22kg. É como carregar um peso considerável pendurado no pescoço por longos períodos."
As consequências desse hábito podem variar desde dores musculares corriqueiras, popularmente conhecidas como "torcicolo", até quadros mais graves como dores de cabeça, tonturas, hérnias de disco cervicais, retificação da curvatura natural da coluna, choques nos membros superiores, dormência e até perda de força.
Diante desse cenário preocupante, endossado pela OMS como um problema de saúde pública, o neurocirurgião oferece dicas cruciais para a prevenção, alinhadas com as recomendações da organização: "A chave está em equilibrar o uso da tecnologia com hábitos saudáveis. A prática regular de atividade física, focando no fortalecimento da musculatura paraespinhal e do 'core' – músculos abdominais e dorsais –, é fundamental para estabilizar a coluna." Ele também enfatiza a importância de manter a cabeça alinhada e o celular à altura dos olhos ao usar dispositivos móveis, reduzir o tempo de uso prolongado, praticar alongamentos e exercícios para fortalecer os músculos do pescoço e melhorar a postura.
O especialista é enfático quanto à importância de procurar ajuda médica ao surgirem os primeiros sintomas anormais. "Um diagnóstico precoce, através de exames físicos e de imagem, é essencial para evitar que um problema que muitas vezes é de fácil resolução se torne crônico e mais complexo de tratar", finaliza Marco Moscatelli.