Em 20 anos, Mesa Brasil atinge 25 mil toneladas de alimentos doados no RN
Marcelo Queiroz, Presidente da Fecomércio - Foto: Adriano Abreu |
Combater o desperdício e levar comida para a mesa de quem mais necessita. Em atividade há 20 anos no Rio Grande do Norte, o programa Mesa Brasil Sesc atingiu a marca de 25,2 milhões de quilos (25,2 mil toneladas) de alimentos arrecadados e repassados a instituições espalhadas em várias cidades do Estado. Mantido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc-RN), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio-RN), o programa já beneficiou diretamente 3,2 milhões de pessoas no RN.
Interlocutores do programa, especialistas em segurança alimentar e instituições beneficiadas apontam que o programa tem impactos sociais significativos, uma vez que milhões de famílias no Estado são afetadas com a falta de comida na mesa.
Segundo o IBGE na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), o RN possui 167 mil pessoas em situação de insegurança alimentar grave e outras 261 mil pessoas em insegurança alimentar moderada, totalizando cerca de 420 mil pessoas. A escala utilizada pelo Instituto considera insegurança moderada quando as pessoas da família precisam diminuir a quantidade e qualidade da alimentação e pular refeições pela falta de alimento. Já quando há insegurança grave, as pessoas chegam a ficar sem nenhuma comida por um dia ou mais. Na insegurança alimentar grave, a privação do alimento atinge também as crianças.
“O Mesa Brasil entrou em contato com instituições e empresas onde havia desperdício de alimentos e fez essa ponte: recolhendo esse produto e repassando para instituições que têm esse viés de combate à fome por meio da alimentação”, explica Ivanaldo Júnior, diretor de Programas Sociais do Sesc-RN.
Segundo dados do Sesc, o Mesa Brasil, que tem entre as instituições favorecidas asilos, escolas, unidades de saúde, ONGs e entidades de assistência social, tem um custo anual de R$ 1,7 milhão, recursos que são direcionados para manter uma ampla estrutura e equipes qualificadas.
O presidente da Fecomercio-RN, Marcelo Queiroz, ressalta que a experiência acumulada ao longo de 20 anos de atividades no Estado torna o programa uma referência quando se busca arrecadar doações no RN, situação replicada em outros estados.
“No Rio Grande do Sul, no período das enchentes, o Mesa Brasil virou um posto de arrecadação de todas as instituições do estado e de outros estados que mandavam [donativos]. O que enviamos daqui do RN não mandamos direto para as pessoas, mas para o Mesa Brasil”, explica.
Em 2021, o programa foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como uma boa prática de combate à fome e promoção da segurança alimentar. Este reconhecimento se deu durante o Prêmio FAO Brasil de Boas Práticas para Sistemas Alimentares Sustentáveis.
Esse tipo de reconhecimento é importante, pois posiciona o Mesa Brasil como um exemplo de atuação social eficaz, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 2, que visa acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e promover a agricultura sustentável.
Objetivo inicial era combater o desperdício
Criado em 2003, o Mesa Brasil Sesc é fruto de uma consolidação de ações anteriores promovidas com o foco no combate à fome e da desnutrição, como o Projeto Pão e Sopa, no Paraná, em 1991, e um programa contra a fome em São Paulo em 1994, chamado Cozinha Central. Nele, o alimento excedente das empresas era utilizado na produção de uma refeição composta por arroz, feijão e um tipo de carne. Esta refeição era encaminhada às entidades sociais cadastradas no programa.
Em 1997, o modelo foi substituído pela Colheita Urbana, que consistia em coletar e distribuir os alimentos excedentes e ainda próprios para o consumo para que entidades sociais fizessem a preparação de suas refeições, sob orientação e monitoramento permanente. Em 2000, o Sesc implantou no Rio de Janeiro um novo modelo, chamado Banco de Alimentos. Nele, as doações eram recolhidas nas empresas onde havia excedentes, sendo armazenadas e disponibilizadas às entidades sociais. Em 2001, esse modelo foi lançado no Ceará, denomina
do Amigos do Prato, e, em 2002, nascia em Pernambuco mais um Banco de Alimentos. Em 2003, as experiências acumuladas ao longo de uma década ganharam dimensão nacional. Surgia então o Mesa Brasil Sesc: uma rede presente em todos os estados brasileiros.
“O programa começou com dois grandes objetivos: reduzir o desperdício e combater a fome. No Brasil, cerca de 30% de tudo que é produzido é desperdiçado, seja em alguma das etapas da cadeia de produção, na fazenda onde é produzido, no armazenamento, no transporte, e na nossa residência. O Mesa Brasil tem esse viés de combate ao desperdício por meio da educação e ações de orientação. Aliando essa ideia de combater o desperdício também combatemos a fome”, explica Ivanaldo Júnior, diretor de Programas Sociais do Sesc-RN.
Natal e Mossoró concentram doações
Quase a totalidade dos alimentos arrecadados pelo Mesa Brasil no Rio Grande do Norte vêm de empresas localizadas em Natal e em Mossoró. Somente este ano, de janeiro a julho, das 156 empresas doadoras cadastradas no programa, 101 se localizam na capital potiguar e 55 na ‘capital’ do Oeste, segundo levantamento do Sesc-RN feito a pedido da TRIBUNA DO NORTE.
Em Natal, as empresas fizeram 34 doações sistemáticas e 67 eventuais nos sete primeiros meses do ano. Já em Mossoró, foram 13 doações sistemáticas e 42 eventuais em igual período. No caso das instituições beneficiadas, 118 estão localizadas em Natal, sendo 26 sistemáticas e 92 eventuais; já em Mossoró foram beneficiadas 67 instituições, das quais 22 são sistemáticas e 45 eventuais.
O presidente da Fecomercio RN, Marcelo Queiroz, afirma que, desde o início do programa, Natal e Mossoró são as cidades que lideram o número de doações, mas agregam doações de vários municípios circunvizinhos.
“Os grandes doadores e beneficiados estão em Natal e Mossoró, mas têm em todas as regiões. Temos doadores em vários municípios. Tivemos um período de doações em Caicó e procuramos distribuir em toda a região. Quando a gente recebe em Mossoró, procuramos distribuir na região Oeste toda. Às vezes, a quantidade é tão grande que trazemos para distribuir nessa região da capital. A abrangência do programa é bem alta”, explica Marcelo Queiroz.
Panorama do programa no Rio Grande do Norte
2003 a 2023
– 25.254.604,75 quilos (25,2 mil toneladas) de alimentos arrecadados e distribuídos
– 3.200.827 pessoas beneficiadas
– 245 empresas já doaram
– 183 instituições já foram contempladas
2024 (janeiro a julho):
– 704.617 quilos arrecadados e distribuídos (704 toneladas)
– 205.024 pessoas beneficiadas
156 empresas doadoras cadastradas:
– Natal: 101
– Mossoró: 55
185 entidades beneficiadas:
– Natal: 118
– Mossoró: 67
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A série Comida na Mesa continua nas edições de terça (01) e quarta (02).
Fonte: Tribuna do Norte