A permanência do conhecimento e do humanismo na vida do professor Alberto Campos
Passar em revista a vida do odontólogo e professor Alberto
Campos, mesmo em poucas linhas, equivale a caminhar no terreno pavimentado do
conhecimento e do humanismo. Antes do profissional conceituado e do professor
laureado, temos o homem educado, cordial e elegante no trato. Um cavalheiro na
humana arte da convivência. Alberto Campos viu luz pela primeira vez em 20 de
outubro de 1909, no bairro de Afogados, no Recife. Os estudos secundários foram
feitos no Colégio Marista, onde teve uma consistente educação religiosa, a
ponto de se tornar seminarista na capital de Pernambuco, o que lhe rendeu
grande trato com o latim. O esporte também fez morada na vida do jovem Alberto
Campos. Na Veneza brasileira, vestiu as cores do Sport Club do Recife, pelo
qual foi ponta esquerda.
Filhos de pai português de pouco
estudo, mas empreendedor, Alberto e seus cinco irmãos ganharam uma polpuda
herança quando da morte do genitor. Todavia dilapidaram a fortuna como se não
houvesse amanhã. Os herdeiros gastaram a dinheirada com coisas mundanas e
avistaram nuvens plúmbeas no horizonte. Nas idas e vindas da vida, o
ex-seminarista recebe outro chamado: o da Odontologia. Ingressa na Faculdade de
Medicina do Recife e cola grau a 7 de dezembro de 1933. Tão logo empunha o
diploma monta consultório na capital, onde clinica por pouco tempo. Casa-se em
primeiras núpcias com Maria José Granja, com quem teve uma filha por nome
Dejardiére. O casamento não vai à frente. Em seguida, parte para Igarassu, na
Região Metropolitana. E da cidade litorânea pernambucana segue para Caicó,
destino de quem saia do Recife, via Igarassu.
Na “capital” do Seridó, Alberto faz
duas amizades improváveis que mudariam sua vida. Conhece os próceres da
política potiguar, notadamente Dinarte Mariz e Walfredo Gurgel. Visando voos
mais altos, Campos se muda para Natal, onde monta consultório em um prédio de
dois pavimentos na avenida Rio Branco com a rua Ulisses Caldas. Ingressa na
política e se candidata a deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB). Não obtendo êxito, vai trabalhar na Legião Brasileira de Assistência
(LBA), à época situada à avenida Bernardo Vieira, hoje Nevaldo Rocha. Egresso da LBA, ingressa na Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Carreira
Na UFRN, Alberto Campos deixou seu
nome no panteão daquela instituição de ensino, onde exerceu diversos cargos. Em
1948 é nomeado para reger a Cadeira de Clínica Estomatológica da Faculdade de
Odontologia, por ato do Governador José Augusto Varela. Dez anos depois, em
1958, recebe outra nomeação. Desta feita para o cargo de Dentista, do Quadro
Geral de Pessoal do Serviço Social da Indústria (SESI). No ano de 1960, nova
nomeação para a função de Dentista pelo então Governador Dinarte Mariz. Em
1966, Campos é designado pelo Magnífico Reitor da UFRN, Onofre Lopes da Silva,
para ser coordenador de Odontologia junto ao Centro Rural Universitário de
Treinamento e Ação Comunitária (Crutac).
Notável em seu campo de trabalho,
toma posse no ano de 1967 como Diretor da Faculdade de Odontologia, ficando no
cargo até 1971. Um ano depois assume o posto de Professor Titular da citada
faculdade. No mesmo 1972 é nomeado professor Catedrático da UFRN. No período de
1974 a 1976, assume a chefia do Departamento de Odontologia Clínica. Dois anos
se passam, e em 1978 o professor Campos recebe a Medalha do Mérito
Universitário, no Grau de Oficial. Para coroar a carreira na academia, em 1980
granjeia o título de Professor Emérito da UFRN.
Ainda na academia, Alberto Campos
foi chefe de gabinete de vários reitores, especialmente Onofre Lopes, Genário
Fonseca e Domingos Gomes de Lima. A sua contribuição para o crescimento do
Curso de Odontologia é inegável. Por meio de suas iniciativas, capacitou e
qualificou incontáveis profissionais para o mercado de trabalho. Com a
construção da nova sede da Faculdade de Odontologia, na avenida Salgado Filho,
em amplas e modernas acomodações, cresceu a necessidade de aumentar o quadro
docente com Curso de Pós-Graduação, assim como qualificar o existente. Pensando
sempre na excelência dos profissionais, Alberto usou a Pós-Graduação em
Odontologia, na cidade de Bauru, no interior do Estado de São Paulo, como porta
de acesso para que os recém-formados em Odontologia ingressassem na docência da
Faculdade.
Pelos notáveis e relevantes serviços
prestados à Faculdade de Odontologia, empresta o nome à Biblioteca Setorial.
Também é homenageado com o nome de rua Professor Alberto Moreira Campos, CEP:
5908-520, no bairro de Nova Parnamirim, na zona Sul. Campos também foi presidente
da Comissão Permanente de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (Copertide),
que, à época, cuidava da avaliação e concessão do regime de trabalho dos
professores da UFRN, tempos depois rebatizada de Comissão Permanente do Regime
de Trabalho. Nos dias de hoje recebe o nome de Comissão Permanente de Pessoal
Docente (CPPD). Alberto Campos trabalha na UFRN até atingir a idade da
aposentadoria compulsória, aos 70 anos. Incapaz de viver longe da academia,
regressa à Universidade, sem ônus, para prestar serviços na Coordenação dos
Campi, que funcionava em uma pequena edificação com pouco mais de 60 metros
quadrados, próxima ao Setor de Aulas Teóricas I, no Campus Central da UFRN.
Honrarias
O professor Campos já fazia parte e
movimentava-se com desenvoltura no seio da sociedade natalense, quando em 25 de
janeiro de 1967 o seu nome foi proposto para integrar o Quadro de Maçons da
Loja Maçônica Bartolomeu Fagundes, que pertence ao Grande Oriente Independente
do Estado do Rio Grande do Norte (Goiern). A apresentação do nome de Alberto
coube ao amigo e colega de profissão, Ascendino Henriques de Almeida Junior,
sendo aceito, por fim, em sessão realizada a 5 de abril de 1967.
A iniciação ocorreu no dia 5 de
agosto do mesmo ano, no grau de Aprendiz. No ano seguinte, passou ao grau de
Companheiro para, em seguida, passar a Mestre Maçon. Na Maçonaria, Alberto
percorreu uma trajetória de sucesso, ocupando vários cargos, tanto no âmbito da
sua loja Maçônica, como no âmbito do Goiern. Foi Primeiro Experto, Orador, Secretário,
Conselheiro Estadual e Deputado na Soberana Assembleia Legislativa Maçônica por
várias legislaturas, chegando ainda a Grande Inspetor da Ordem (Grau 33).
Por tudo que representava para
Natal, o reconhecimento de Alberto Campos veio com o Título de Cidadão
Natalense, proposto pelo vereador e amigo José Elesbão de Macedo, que por
muitos anos exerceu atividades na antiga Faculdade de Odontologia. A proposta
foi aprovada por unanimidade dos vereadores presentes à sessão, e o Título
entregue em Sessão Solene, na Câmara Municipal do Natal, numa época em que a
sede do legislativo municipal funcionava na Praça André de Albuquerque.
Registre-se, ainda, que na Academia
Norte-Riograndense de Odontologia, Alberto Moreira Campos é o Patrono da
Cadeira 34.
Vida pessoal
Logo que chegou a Natal, Alberto
Campos conheceu a jovem ceará-mirinense Geny Brandão, escrevente da Rede
Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). O primeiro alumbramento foi nas areias
escaldantes da praia, hoje conhecida como dos Artistas. E o amor à primeira
vista logo tomou morada no coração do pernambucano. Ainda na praia, quando deu
sua hora, Geny recolheu seus pertences para voltar para sua residência na
avenida Presidente Bandeira. Morava com a família. Alberto a seguiu e nas
proximidades da casa da pretendida, pediu a um adolescente para levar um
bilhete até as mãos de Geny. A investida não surtiu efeito de imediato. Após
novas tentativas e de paciência bíblica, Alberto, com muito tato, conquistou o
coração de sua amada para sempre.
Consolidado o matrimônio, o casal
vai morar na rua Trairi, no bairro de Petrópolis. Em seguida, na rua Senador
Guerra, na Cidade Alta, avenida Presidente Bandeira, no Alecrim, voltando para
a rua Trairi. Ainda em Petrópolis, Alberto, Geny e filhos moram em três casas
distintas na rua Ana Neri, e, finalmente, em 1967, o odontólogo adquire uma
casa própria na rua Tenente Brandão, no Alecrim.
Do laço matrimonial entre Alberto e
Geny, nasceram sete rebentos, nomeadamente Roberto Campos (morto
prematuramente), Sônia Paiva Campos, Lígia Campos, Geniberto Campos, José
Ferreira Campos, Paulo Roberto Paiva Campos e João Maria Paiva Campos (Joca).
Amigos e familiares descrevem
Alberto Campos como um homem elegante e de bom coração. Era um cidadão solar.
Apreciava dias ensolarados na sua casa da cidade, na granja ou na casa de
praia. Mas ao cair da tarde era tomado de uma melancolia que só encontrava
consolo em Geny. Cidadão de hábitos simples, no meio da semana gostava de fazer
compras de mantimentos para a casa. Escolhia mercadinhos de bairro, em vez de
supermercados. Optava por comprar um item por dia para ter o que fazer todos os
dias da semana. Aos domingos costumava fazer compras em uma feira instalada na
rua São José, entre as avenidas Bernardo Vieira e Antonio Basílio.
A 17 de janeiro de 1987 faleceu
Alberto Campos, há menos de um ano do encantamento de Geny, em 1986, por
complicações decorrentes de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com a partida
da amada, o professor tornara-se um homem melancólico, ensimesmado. Era difícil
viver sem a presença física da companheira de longa data. Se a rotina perfeita
é Deus, Alberto foi se encontrar com Geny nos braços do Senhor para lá
continuarem a se amar.
Carlos Frederico Lucas é
articulista, poeta e contista.