Projeto constrói mapa afetivo de memórias, lugares e tradições das Rocas
O bairro das Rocas, localizado na zona Leste de Natal, é considerado o berço do samba potiguar. Junto com a Ribeira e com a Cidade Alta, faz parte da história de fundação da cidade e possui personagens, circuitos, lugares e arquiteturas carregadas de memórias. Para costurar essas raízes, o projeto Mapa Afetivo: Rocas e seus quintais de samba, do Núcleo de Antropologia Visual (Navis), coordenado pela professora Lisabete Coradini, realiza pesquisas por meio de diálogos com a comunidade local para criar um acervo histórico do bairro e da cidade, com destaque às percepções, costumes, vivências e afetos dos moradores.
A construção do mapa é feita a partir dos arquivos de imagens, atuais e antigas, e de vídeos feitos pelos universitários em caminhadas pelo bairro conversando com os locais. Esses materiais são colocados na página do Instagram do projeto @mapa.afetivo.das.rocas, formando um acervo de histórias e tradições dos moradores. “A ideia é lançar outros olhares a essas memórias e construir registros que podem ser transmitidos e compartilhados entre as pessoas, convidando-as a se apropriarem dessas histórias. O mapa se constitui enquanto um arquivo vivo, montado por meio de diálogos com a comunidade”, explica Arthur Pereira, Mestre em Antropologia Social e colaborador do projeto.
A equipe se debruça em documentar personagens cujas histórias de vida se confundem com a história do próprio bairro. Ao longo dos mais de 20 anos de trabalhos do Navis, foram produzidos vídeos e documentários, que estão disponíveis ao público no canal do YouTube do Núcleo. As produções contam sobre o Mestre Zorro, um dos fundadores da escola de samba Em Cima da Hora e um dos protagonistas do samba no bairro; o Seu Pernambuco, senhor de 90 anos, dono do tradicional Bar do Pernambuco há 56 anos, localizado no Canto do Mangue; e as Divas do Samba potiguar, Dodora Cardoso, Glorinha Oliveira, Lucinha Lira e Hélia Braga.
Nas Rocas, a tradição do samba permanece viva, por isso está fortemente presente nos registros para o mapa. Na calçada em frente ao Esquina Prime, Bar e Conveniência, na Rua Pereira Simões, os instrumentos de percussão e as vozes entoam a melodia do gênero musical dançante na tradicional Segunda do Vagabundo, realizada todas às segundas-feiras. “Ao olharmos o samba, vemos práticas de resistência, memórias e afetos envolvidas num momento que é partilhado na rua, no espaço público, nas noites da cidade. Samba é riqueza e memória das pessoas, de suas histórias e representa também uma maneira de se ocupar e viver a cidade”, destaca Arthur, sobre a principal tradição do bairro.
A partir do contato da equipe com o bairro, já foram mapeados a Escola de Samba Balanço do Morro, o Racing Sport Club, as atividades da pesca no Canto do Mangue, a Ocupação do MLB Palmares, o Museu da Rampa, o Mercado Público, a Feira Livre, o Graffiti enquanto arte de rua, a Paróquia da Sagrada Família, o Hospital dos Pescadores, a Escola Estadual Isabel Gondim e a Cabana Umbandista. Além dos personagens e personalidades citadas acima, também teve destaque Seu Aluísio Pereira, carnavalesco que há 63 anos foi um dos fundadores da escola que mais se sagrou campeã do Carnaval de Natal, a Malandros do Samba.