Mulher busca mãe biológica em Natal

 


Em 1976, Andréa Lúcia de Silva nasceu na Maternidade Escola Januário Cicco, filha de uma mulher chamada Célia. Dias após seu nascimento, foi entregue para adoção a um casal que morava nas Quintas, Dona Lúcia e Seu Sabino. 45 anos depois, Andréa procura informações sobre sua mãe biológica.

As informações são poucas. Andréa sabe que a adoção foi intermediada por Jeronimo Moura, antigo guarda da Maternidade. Dele, veio o relato de que Célia era doméstica e trabalhava na casa do Coronel José Reinaldo Cavalcante, que foi o primeiro comandante geral da Polícia Militar no Rio Grande do Norte, e na época morava na avenida Rodrigues Alves. No entanto, nenhum dos envolvidos ainda tem contato com sua mãe.

“Seu Jeronimo a conheceu na maternidade, onde inicialmente ela disse que só estava aguardando a alta médica para sair comigo. Dias depois, perguntou se ele conhecia alguém que queria adotar uma criança, já que a família para qual ela trabalhava não aceitaria um bebê. Jeronimo morava perto dos meus pais adotivos, na vila de Dona Idalina e Seu Oscar, perto da base da Marinha, no bairro das Quintas”, diz.

Jeronimo conta que trabalhava na CPTran, como soldado do trânsito, mas foi designado para a Maternidade após o diretor Leide Morais solicitar um segurança à Polícia Militar. “Conheci Célia na janela da Januário Cicco, tinha uns pés de algarroba por perto, eu olhei para ela ainda com a pulseira da Maternidade e ela disse que estava esperando o carro de sua patroa. Tivemos aquele contato e ela me deu o telefone da casa do Coronel e ficamos nos comunicando, passei um tempo gostando dela”.

Segundo ele, a intenção de Célia não era abandonar Andréa mas suas condições levaram a isso. Inicialmente, mãe e filha foram aceitas na casa do Coronel Cavalcante mas após o período de resguardo, a situação ficou insustentável. A bebê chorava muito e Célia não tinha para onde ir e nem  com quem deixar a criança.

“Eu disse a Célia, olha tem um casal que mora na vila dos meus pais, que fala muito em adotar uma menina. Ela ficou calada porque ainda tinha apoio na casa do Coronel, mas quando perdeu esse apoio, ela não podia fazer mais nada. Essa senhora Lúcia, que é falecida hoje, tinha vontade de  completar a família porque achavam que não tinham mais condições de ter filhos”, comenta.

O contato entre os dois foi perdido um ano após a adoção, mas ele acredita que Célia pode ser natural da Paraíba. Jeronimo diz que por ela não ter ninguém por perto e nunca ter apresentado  ninguém da família, essa é uma possibilidade. “Nos dias de folga, ela ficava na casa dessa família porque não tinha para onde ir mesmo. Nunca me disse o nome do pai da criança e não lembro o seu sobrenome. Eu tinha uma foto dela na casa da minha mãe mas foi perdida. Ela era um pouco baixa, branca e com os cabelos no ombro, de uma cor castanho claro, puxado para o loiro”.

Recém-casados e ainda sem filhos na época, o casal Luciene Sotero e Miguel Sabino abraçou a oportunidade da adoção. “Jeronimo intermediou tudo, levou minha mãe biológica comigo nessa vila, onde meus pais também moravam. Lúcia, como era conhecida minha mãe adotiva, disse que Célia queria me deixar lá por um ano e voltar, mas ela só aceitava se fosse para sempre”.   

Andréa permaneceu nessa vila com seus pais até os cinco anos, após ser formalmente adotada em fevereiro de 1977. Depois, mudou-se para o Conjunto Panatis na Zona Norte de Natal, aonde mora até hoje. Aos dez, soube de sua adoção ao escutar uma discussão entre os pais, onde a história contada pela mãe adotiva difere da versão contada por Jeronimo. “Minha mãe contou que Célia me deu porque era mulher da vida, só que a outra pessoa que a conheceu na Januário disse que não. Acho que acredito mais no relato dele. Talvez ela tenha dito isso pra me afastar da ideia, pra eu não querer ir atrás”, explica.  

Para Andréa, o baque emocional sofrido afetou a forma como ela encarava a vida, criando um sentimento de revolta com a situação. “Eu tinha uma sensação de abandono, me sentia um cachorro. Assim, um animal mesmo, porque para mim, independente de qualquer situação, as pessoas tem que criar os filhos. Não sei, posso estar errada, porque me falam pra levar em conta a situação da época, que realmente foi para o melhor. Mas eu me sinto diferente da minha família adotiva. Se eu a encontrar, talvez mude esse pensamento. A história completa quem pode contar realmente é ela. Talvez ela não tenha tido uma outra opção mesmo”.

Busca
Quando tinha treze anos, Andréa conta que seu pai encontrou Célia no bairro da Ribeira e sua mãe biológica perguntou por ela. Sobre a sua busca por informações, a curiosidade é a principal motivação. “Todo mundo quer saber sua origem, de onde você veio, mas eu tinha medo de magoar a mãe que me criou. Só que eu sempre tive a curiosidade, não de convivência, mas de conhecer. Eu não sei se vou sentir revolta por ela ter me dado ou agradecer por vê-la. Não consigo imaginar minha reação”.

“Ninguém tem o contato dela, nem o sobrenome eu sei. Se ela for viva, ler o relato, e se identificar, peco que entre em contato. Acho que ela deve ter uns 67 anos, talvez seja dois anos mais jovem. Ela deve ter me tido com vinte e pouco anos. Não quero um vínculo necessariamente, apenas vê-la. Me dizem que pareço com ela. Quem sabe, talvez”, finaliza.

Contatada, a Maternidade Escola Januário Cicco esclareceu que as informações do prontuário da gestante pertencem a mãe e só podem ser acessadas por ela. Caso o solicitante saiba dizer o dia, mês, ano e hora de seu nascimento, há a possibilidade de entrar com um pedido judicial para acessar essas informações. A partir de decisão da Justiça, a Maternidade poderá realizar a busca em seus arquivos e compartilhar os dados.

Caso você reconheça algo no relato e possa oferecer alguma informação sobre o caso, entre em contato com Andréa através do email luciaandrea283@gmail.com.
TRIBUNA DO NORTE