Comunidade Terapêutica Ebenézer resgata dignidade de dependentes químicos no RN

 

Comunidade Terapêutica Ebenézer na Praia de Genipabu

As drogas são mazelas sociais presentes em todo o mundo. Por meio delas, a dignidade humana torna-se inexistente e indivíduos têm físico e mental abalados. Um problema de saúde pública; uma crise social. O poder público tem responsabilidade nessa realidade, bem como o dever de mudá-la. Quando esse é omisso, as instituições secundárias assumem o protagonismo e devolvem o que é inerente a todo cidadão: o direito à vida.

No Rio Grande do Norte, a Comunidade Terapêutica Ebenézer acolhe pessoas que não conseguem abandonar o vício em drogas ilícitas, como o crack. Dependentes, elas chegam a um dos seis centros mantidos pela instituição acompanhadas de familiares ou resgatadas por integrantes de igrejas evangélicas. Mas existem aqueles que, em meio ao conflito interno, encontram coragem e força para mudarem a realidade em que estão inseridos. Com Luciano Oliveira foi assim.

Hoje com 37 anos, o comerciante que começou a usar drogas aos 13 anos. Ele esteve em tratamento duas vezes na unidade localizada em Extremoz, na Grande Natal. Em 2015, ficou três meses internado. Com orgulho, Luciano diz que passou quase três anos “limpo” – expressão popular usada para afirmar que não há drogas no corpo. Porém, com a morte de familiares, ele teve uma recaída, voltou a se drogar e perdeu 13 quilos em doze meses.

“Eu estava há dois anos e oito meses ‘de pé’, sem fumar nem cigarro. Quando minha mãe e meu tio morreram, eu usei as drogas como suporte e desembestei (a consumi-las). Passei um ano nessa situação, em desgraça. Só coisa errada em minha vida: emagreci, perdi amizade, criei inimizade com familiares e pessoas que gostavam de mim. Por já conhecer o projeto, voltei para ele. Graças a Deus estou limpo, e pretendo continuar assim para sempre. Para ter recuperação tem que realmente querer. Não adianta levar (o dependente) sem querer, pois dá errado”, desabafa.

Além da unidade na Praia de Genipabu e no centro em Extremoz, a Comunidade Terapêutica Ebenézer tem unidades no bairro Planalto, na zona Oeste de Natal, Macaíba, Serra Caiada e Guamaré. Juntos, eles reúnem 184 acolhidos – dependentes em processo de recuperação. Toda a assistência é ofertada gratuitamente, e financiada por meio de doações, como detalha um dos integrantes do projeto, o pastor Genival Moura, membro da Igreja Assembleia de Deus.

Comunidade resgata dignidade de dependentes químicos no rn: “estou limpo”
Espaço é cercado de natureza – Foto: Reprodução/Facebook

Jenivam Moura explica que metade dos acolhidos chegam por conta própria à comunidade. Em comum, eles revelam cansaço com as condições em que foram inseridos por causa das drogas. Tal cenário, que foi agravado por causa da pandemia. “A fome passa a ser uma realidade dessas pessoas, que passam a morar nas ruas, vivendo em condições indignas”, destaca o pastor, que explica que 30% dos acolhidos passam 12 meses em tratamento.

Nesse sentido, a pandemia da Covid-19 trouxe diversas mudanças sociais, comportamentais e emocionais em toda população mundial, acarretando tristeza, dor e transformação. Porém os dependentes químicos sofrendo ainda mais com essa situação. Nos meses de isolamento social observou-se um expressivo aumento no número de internações hospitalares decorrentes de drogas ilícitas.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um aumento de 54% em 2020 no atendimento de dependentes químicos se compararmos a 2019. Este aumento é preocupante pois, nos últimos anos, nunca foi registrado tamanho crescimento, segundo a pasta.

Por isso, a assistência gratuita e de qualidade tornou-se ainda mais necessária. O pastor explica que a dependência química envolve aspectos biopsicossocial e espiritual. Para uma recuperação efetiva, todos esses fatores devem ser bem trabalhados. A reconstrução é fundamental para o estabelecimento de uma nova história e a continuidade das transformações ocorrida no processo de recuperação, segundo ele.

Para tanto, a Comunidade Terapêutica Ebenezer, dispõe de um plano terapêutico multidisciplinar, que envolve: atendimento psicológico, atendimento social, ambulatorial e atividades terapêuticas, tais como: terapia de grupo, musicoterapia, cursos profissionalizantes e oficinas.

Para que todo o projeto seja executado, a ajuda se faz necessária, pois há quatro meses que cerca de 40% das despesas da instituição, que eram custeadas com recursos públicos encaminhados pelo governo federal, não foram repassadas à comunidade, segundo o pastor. Por tal razão, Genival Moura reforça a importância da colaboração popular, seja com trabalho voluntário ou com doações financeiras, através do chave PIX: 84986232922.

“Vivemos por meio de doações. Os profissionais envolvidos na assistência são voluntários. Todos os acolhidos são atendidos gratuitamente. A família que tem condições, ajuda (com dinheiro). Mas essas não é a maioria”, conta o religioso, ao detalhar que há 42 voluntários na instituição, dos quais 12 são profissionais técnicos, como assistentes sociais e enfermeiros.

Atividades

  • Nos centros, os acolhidos participam de atividades de incentivo ao plantio, cultivo, aprendizado de manejamento com o solo e sementes, além da irrigação de modo correto;
  • São realizadas periodicamente, reuniões entre os técnicos e acolhidos, com o intuito motivacional e de interação mútua;
  • São realizadas periodicamente, palestras com temas diversos.

Como ajudar

Além do PIX, a contribuição financeira pode ser feita através de conta bancária:

Agência: 4194
Conta corrente: 6807-1
Banco: Sicoob
Nome: Desafio Jovem Ebenezer

Quem desejar ser voluntário ou fazer doações de alimentos e materiais, pode procurar a sede em Extremoz e fazer o cadastro.

Dados

De acordo com Relatório Mundial sobre Drogas 2021, cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo inteiro no último ano, enquanto mais de 36 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de drogas O documento foi divulgado em julho deste ano pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

Tal consumo é iniciado, em alguns casos, na fase escolar, como detalha a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada em 2021 pelo IBGE. O levantamento mostra que cerca de 13% dos escolares haviam experimentado algum tipo de droga ilícita, como maconha, cocaína, crack e ecstasy. Entre os estudantes da escola pública (13,3%), a exposição era maior do que entre os da rede privada (11,4%). Regionalmente, os maiores percentuais se encontravam no Sul (16,7%) e Sudeste (16,2%) e os menores, no Nordeste (7,9%) e no Norte (9,3%).

O percentual de jovens cuja primeira experiência com drogas ilícitas aconteceu antes dos 14 anos foi de 4,3%. Em 2015, havia sido de 4,2%. A proporção é maior também entre os alunos da rede pública (4,6%) do que entre os da rede privada (2,7%). “Na maioria das vezes, a iniciação é mais fácil na escola pública por conta do acesso mais facilitado. Nos escolares mais velhos, já podemos observar o acesso a recurso para compra. Isso se manifesta muito no álcool e, possivelmente, também no cigarro eletrônico”, diz o pesquisador.

Com informações do Agora RN