Turistas reclamam de preços na praia de Ponta Negra

 


Os preços de bebidas e petiscos praticados nas barracas da praia de Ponta Negra, na Zona Sul de Natal, têm despertado a reclamação de turistas. As queixas são de clientes de outros estados do país e de pessoas que vivem na capital potiguar. Os vendedores, que possuem autorização para montar as estruturas na faixa de areia, argumentam que os valores acompanham o aumento dos alimentos no supermercado e refletem também o período mais crítico da pandemia, onde perderam cerca de 50% do faturamento, segundo estimativa própria.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com potiguares e turistas de diversos locais do país na praia mais famosa de Natal. O catarinense Vilmar Reinert, que já trabalhou no departamento de futebol do ABC Futebol Clube nos anos 2000, retornou a Natal a passeio na semana passada e conta que se surpreendeu com os valores elevados. “Já conhecia aqui a cidade, já trabalhei aqui, mas os preços estão muito salgados. Aqui você é obrigado a pagar se quiser ficar na barraca. Vim de Fortaleza, no Ceará, há pouco tempo e lá os preços estão muito mais baratos, muito mais atrativos”, conta.

Vilmar veio acompanhado da esposa Márcia Reinert. O casal, que vive em Florianópolis, planejou passar uma semana em Natal. “Percebemos realmente esse aumento nos preços em relação à última visita que fizemos a Natal em 2018. Para ficar aqui na barraca nós tivemos que pagar. Deveria ser ao contrário. Se nos fosse oferecido a barraca, nós ficaríamos muito mais dispostos a consumir, seria um incentivo. Esse fato e os preços dos petiscos que estão muito caros acabam afastando o turista daqui, que é uma cidade muito bonita”, relata Márcia Reinert.

Da parte central da praia ao pé do Morro do Careca, o preço de uma cerveja de 600 ml varia entre R$ 10 e R$ 19. Drinques simples como a caipirinha são encontrados por R$ 8, enquanto os mais elaborados com frutas e diferentes tipos de bebidas alcoólicas chegam a R$ 25 cada. Já os petiscos de carne de sol, calabresa, frango, peixe ou camarão custam em média R$ 90. As porções para três ou quatro pessoas, que misturam camarão, lagosta, peixes, arroz, macaxeira e salada são vendidas a partir de R$ 190 e podem chegar a R$ 350, no caso de uma caldeirada de frutos do mar com pirão, arroz e legumes.

Quem também ficou na bronca com a carestia de Ponta Negra foi o carioca Alexandre Neves, que visita Natal pela segunda vez. Ele dividia mesa e guarda-sol com o natalense Samuel Silva. Eles se limitaram a ficar na água de coco e na cerveja devido à alta no cardápio. “Aqui a gente pediu uma cerveja pra ficar aqui sentado porque o petisco está um absurdo. Não tem como, muito caro”, reclama Neves.

Em Ponta Negra são vendidos os chamados “kit praia” que contam com barraca, mesa, guarda-sol, três ou quatro cadeiras e espreguiçadeira ao preço de R$ 20 a R$ 25. O valor deve ser pago mesmo que não haja consumo de bebidas ou petiscos. “Estou aqui pela quinta vez, já sou quase potiguar. Aqui é um paraíso, mas ultimamente está muito salgado. A gente veio porque depois de um tempo em casa na pandemia, a gente estava precisando disso, mas está tudo muito caro, aqui até pra sentar ”, afirma o carioca João Pereira.

Há também quem não sentiu tão fortemente o custo do consumo em Ponta Negra. O casal Marcelo e Francyelle Felipe, de Foz do Iguaçu, no Paraná, relata que ainda não deu para sentir no bolso a estadia na capital potiguar. “Nós já conhecíamos aqui a cidade, estamos voltando e ainda não deu para perceber aumento nos produtos. Já conhecemos outros lugares do Nordeste e preferimos Ponta Negra porque é uma praia bonita, urbana e limpa”, diz Marcelo. “O mundo inteiro tem passado um momento difícil nessa pandemia e essa está sendo uma oportunidade de voltar para cá para visitar Natal. Por enquanto está tranquilo em relação aos preços”, acrescenta Francyelle.

Jair Neto, que trabalha em Ponta Negra há quatro anos, conta que os preços acompanham a inflação e têm influência do período de queda nas vendas por causa da pandemia de covid-19. Ele gerencia 10 barracas em Ponta Negra e está confiante na retomada do turismo para recuperar perdas. “A gente ainda está em um momento muito difícil, agora que o pessoal está começando a retornar para a praia, viajar mais. A gente torce que a partir de outubro isso já dê uma melhorada porque a gente teve uma perda de 50% nas vendas, isso afeta muito”, alega.

Natalenses procuram alternativas mais baratas
Do outro lado da cidade, a Praia da Redinha, na Zona Norte, distante 20 quilômetros de Ponta Negra, é considerada mais acessível pelos banhistas, que preferem a tranquilidade do local para passar os dias de lazer com a família e amigos. Com mar calmo, mesas a beira-mar e vista para a ponte Newton Navarro, o único balneário da orla urbana da Zona Norte natalense é a primeira opção de quem quer ir à praia sem gastar muito.

É o que contam o cozinheiro Paulo Roberto e o vendedor Paulo Márcio, que moram em Natal. “Para a gente é muito mais fácil, barato, vir aqui, trazer a família para passar o dia. Os preços são justos e eu prefiro a Redinha, apesar de não ser uma praia muito conhecida dos turistas, como é Ponta Negra”, conta Paulo Márcio. Famoso reduto da típica ginga com tapioca, patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Norte, a iguaria é o primeiro item do cardápio do Mercado Público da Redinha pelo preço de R$ 8. As cervejas de 600 ml são vendidas por R$ 9 e R$ 10, enquanto que o litrão é comercializado por R$ 12. Os pratos para até quatro pessoas variam de R$ 80 a R$ 150 e o “kit praia” é gratuito. “Essa é uma forma da gente chamar mais gente para cá, temos uma praia muito linda e muito atrativa. O preço é o nosso diferencial, até porque estamos em um momento difícil de pandemia”, diz o garçom Paulo Alves de Cosme.

“É muito mais vantagem aqui. Não tem nem comparação. Aqui você senta na mesa e se não consumir nada, você não paga nada. Os preços são bacanas e as promoções também. A gente vê casos em Ponta Negra em que uma turista estava sentada na barraca e comprou de outro ambulante e por causa disso sofreu um constrangimento do dono da barraca, que não queria ela consumisse de outro local. Isso não é legal para a cidade”, completa o cozinheiro Paulo Roberto.

Ele se refere a um caso registrado no dia 28 de agosto envolvendo uma turista de Brasília. A influenciadora digital Thaís Michelle estava na praia de Ponta Negra e alugou um kit praia com mesa, cadeiras e guarda-sol por R$ 20. Ela mora na capital federal e recentemente comprou uma residência em Natal. Na companhia da mãe, ela conta que estava consumindo bebidas no local. “Além de pagar a barraca, nós estávamos pagando as bebidas, refrigerante, cerveja, água de coco”, lembra. Segundo a brasiliense, a discussão começou quando ela resolveu comprar um petisco de um ambulante que passava pela barraca.

“Nós combinamos antes com ele de que pagaríamos a barraca e a bebida, mas que não comeríamos nada, até porque minha mãe já tinha comido lá e, além de ser muito caro, não tinha gostado. Só que passou uma ambulante vendendo isca de peixe e nós compramos esse petisco, o que é normal, afinal eles também precisam trabalhar. A gente estava comendo quando ele veio deixar uma cerveja para gente aí ele já veio gritando, dizendo que se fosse para comprar de outro lugar poderia levantar e ir embora. Foi muito feio. Gritando na frente de todo mundo”, conta a influenciadora digital, que filmou o episódio e publicou na internet. O barraqueiro recebeu uma notificação da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb).

Antes, em julho, outro caso que ganhou as redes sociais foi o de uma turista de São Paulo. Ela denunciou a prática de preços abusivos ao pagar R$ 500 por oito cervejas e uma porção de batata frita em uma tenda móvel instalada na orla de Ponta Negra. O estabelecimento acabou sendo interditado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). “Quando a gente recebeu a denúncia já sabia que se tratava de um local onde não podia ter tenda nenhuma, então a fiscalização bateu em cima disso, até porque a Semsur não pode fiscalizar os preços. Fizemos a autuação e a apreensão. De qualquer forma isso é muito ruim porque afasta o turista em um momento que a gente precisa muito do turismo”, comenta Carlos Falcão, chefe de fiscalização da Semsur.

Denúncias
Atualmente não há registro de denúncias de preços abusivos no Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Natal). Apesar disso, de acordo com o diretor do Departamento Técnico do órgão, Diogo Capuxú, o cliente que se sentir lesado ou detectar grande diferença de preço para um mesmo produto deve acionar o Procon. “A orientação é procurar o Procon munido de provas do que aconteceu, para que o órgão veja a medida mais adequada a se fazer”, reforça.