Sem um último adeus

 Por Valéria Araújo

A Ribeira e a história de Natal amanheceram tristes. Depois de fadado a anos de esquecimento, o prédio da bota Arpége ruiu. O casarão datado do século XX e chegou a abrigar o armazém Secos e Molhados. Depois, foi sede de uma gráfica. No andar de cima, até a década de 1990, foi palco da casa noturna "Arpege". O prédio histórico também serviu de cenário para gravação dos filmes "For All - O Trampolim da Vitória" e "O Homem que Desafiou o Diabo".

O imóvel foi tombado em 2010 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan). As Ribeira e a Cidade Alta fazem parte do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Natal. O tombamento ocorreu em 2010, mas desde então a área não passou por ações de revitalização.

Histórico

De acordo com o professor e historiador Bruce Lee, o casarão também conhecido pelo nome de Edifício Galhardo foi construído no início do século XX, por volta de 1904, por uma família de alemães. Nos primeiros anos, o prédio funcionou sob o nome de "Armazém Secos e Molhados".

Em 1941, o empresário Nestor Galhardo adquiriu o edifício e montou uma gráfica no pavimento térreo da construção. No andar superior, Galhardo abriu uma casa noturna durante a Segunda Guerra Mundial e a batizou de Arpège que foi gerenciada por Rosita, amante de Galhardo. O local passou a ser ponto de encontro da boemia potiguar.

A história é contada na tese de mestrado de do arquiteto e urbanista Gilmar de Siqueira Costa, especialista em Restauração e Conservação de Monumentos e Conjuntos Históricos e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Segundo os historiadores, o famoso cabaré teria recebido dois visitantes ilustres na década de 1940: os presidentes Franklin Roosevelt (EUA) e Getúlio Vargas.

Após a morte de Nestor Galhardo, o neto dele assumiu a administração dos negócios do edifício que continuou funcionando como gráfica e boate. Os negócios foram fechados na década de 1990.

"A propriedade foi adquirida pela empresária carioca Paula Homburger, que investiu acreditando no projeto de revitalização da Ribeira. O objetivo era construir um restaurante no local onde por muitos anos funcionou o cabaré, porém a ideia não deu certo por uma série de motivos estruturais, burocráticos e financeiros", afirma o historiador Bruce Lee.