Individualização de água em condomínios ultrapassa 40% de economia
Água individualizada = conta justa + medida certa para economizar. Não é matemática. Mas a fórmula é simples assim e se encaixa no mundo moderno, de sustentabilidade ambiental e com grande preocupação do uso sem limites dos recursos hídricos. A Lei Federal 13.312 sancionada em 12 de julho de 2016 estabelece um prazo decinco anos para que as novas edificações incluam, entre outros procedimentos, a medição individualizada do consumo hídrico por unidade imobiliária. “A grande diferença agora é que existe um limite pra isso. As construtoras entregavam a infraestrutura pronta e os condôminos, depois que recebiam os imóveis, não levavam de imediato o assunto para a assembleia. Agora, até 2021, será obrigatório individualizar o consumo. É justo que o morador pague pelo que ele gasta”, explica Roberto Fagundes, empresário da Techmetria, pioneira e líder no segmento da medição individualizada em cinco Estados (AL, PE, PB, RN e CE).
Quem mora em condomínio sabe bem. Torneira aberta a vontade, vazamentos e falta de consciência no consumo pesam caro no rateio da água. “Esta é, sem dúvida, a segunda maior despesa de um edifício, em alguns casos, a primeira”, diz Inaldo Dantas, advogado e administrador condominial. “Além de pesar no bolso, é preciso estar atento ao problema da escassez de água potável. Precisamos apontar alternativas para o uso irracional dos recursos naturais. A natureza já pede socorro há muito anos”, alerta Fagundes.
Em estudo do Instituto Trata Brasil (2010), intitulado de “Perdas de água: entraves ao avanço do saneamento básico e riscos de agravamento à escassez hídrica no Brasil”, ficou constatado que as perdas de faturamento das empresas operadoras com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, alcançaram, na média nacional 37,5 %. Uma redução de apenas 10% nas perdas no país agregaria R$ 1,3 bilhão à receita operacional com a água, equivalente a 42% do investimento realizado em abastecimento de água para todo o país naquele ano. Redução de perdas mais significativas ajudaria ainda mais as empresas a terem recursos para a expansão do atendimento em água potável, mas também na ampliação das redes de esgoto e tratamento.
A boa notícia é que a água individualizada pode ser implantada em todos os tipos de edifícios. Nos prédios novos, preparados para medição individualizada (com shaft), basta colocar um hidrômetro em cada apartamento, os custos são baixos e a instalação é rápida, em torno de 20 minutos. Em edificações antigas, é necessária a análise das unidades e também da área comum para elaboração do projeto de adaptação. Pernambuco possui uma particularidade. Desde 2004, a Lei Estadual nº 12.609/2004 já obriga que as construtoras entreguem os edifícios prontos para receber a instalação dos medidores.
Quem batalhou pelo pagamento da conta justa garante que não foi fácil convencer, de imediato, os demais moradores. “Foi uma luta feroz e quase perdida! Na época, era necessária uma adesão de 100% dos proprietários, 24 apartamentos e área comum. Quem tinha vazamentos de descargas há mais de 30 anos não gostou da ideia. Nas primeira e segunda faturas foi um soco no estômago dos responsáveis pelo alto consumo (ou desperdício). Temos que trabalhar em cima do respeito aos nossos mananciais; a nossa realidade de água não nos permite gastos irresponsáveis e desperdícios a olhos vistos. Ou tomamos medidas para aprender a economizar, racionalizar, e, principalmente , respeitar a capacidade da natureza, ou ficaremos com dinheiro no bolso, sem água nas torneiras”, alerta Helena Moura, moradora de edifício em Boa Viagem, zona sul do Recife.
Embora a lei estabeleça as regras, é necessário levar o debate para assembleia geral com objetivo de levantar preços, opiniões e deixar bem definido qual o procedimento que será adotado naquele condomínio. “Existem, por exemplo, medidores que podem ser digitais. A grande vantagem é que eles detectam, automaticamente, vazamento nos apartamentos. É preciso estudar sobre o melhor custo benefício para cada empreendimento”, explica Fagundes. Um outro detalhe importante é a forma de cobrança. “ É possível cadastrar os apartamentos junto a concessionária de água do estado. A segunda possibilidade, e recomendação nossa, é que o próprio condomínio faça a cobrança junto aos moradores. Neste segundo caso, a economia pode chegar em torno de 40%. É como se você comprasse de um grande consumidor, que é o condomínio, e, internamente, você gerencia a distribuição. Assim não há cobrança de taxas progressiva e mínima de água, estabelecidas pela companhia de abastecimento”, detalha Roberto Fagundes, da Techmetria.
Vantagens - Tecnologia: com a medição remota, a telemetria, não é necessária a presença de um leiturista para registrar o consumo. “No Nordeste já são mais de 30 mil pontos de telemedição instalados entre medidores de água, gás e também energia. Desta forma, o processo torna-se mais seguro, diminuem as possiblidades de erro humano e evita perda de tempo com deslocamentos de um profissional”, assegura Fagundes. Justiça nas contas: economia que pode ultrapassar a casa dos 40%. “No edifício onde moro, nos Aflitos-Recife, com 45 apartamentos, a despesa mensal era acima de R$.9000,00 com água e rateio injusto. A partir da cobrança individualizada, o número caiu para menos da metade R$4.400,00. Economia de 48%. Em dois anos, o condomínio economizou mais de R$100.000,00”, comemora a síndica, Giani Aziz.
Custo para individualizar - Prédios com infraestrutura pronta, normalmente construídos de 2002 em diante, possuem custo aproximado de R$ 300,00 a R$ 480,00 por apartamento, dependendo do tipo de medidor e tecnologia adotados. Em edificações antigas, fatores como tempo de construção, local de instalação dos equipamentos, quantidade de colunas de água devem ser analisados cuidadosamente. Em média, nestes casos, o trabalho varia entre R$ 1.800,00 a R$ 7.000,00 por unidade residencial. “A individualização não pode ser considerada como despesa, mas como investimento. A valorização do imóvel para locação ou venda é imediata e o valor pago é recuperado rapidamente”, afirma Nelise Cunha, Diretora Financeira da Techmetria – Medição Individualizada.
“O corte no fornecimento da água só é possível naqueles casos em que a conta total é paga pelo condomínio e rateada, de acordo com o consumo individual de cada unidade medido pelo hidrômetro instalado pelo próprio condomínio. É preciso que a convenção preveja tal punição para o inadimplente, dando a ele o direito prévio de defesa. Ou seja, o síndico, antes de cortar a água, deve comunicar que isso ocorrerá se, em determinado prazo estabelecido na convenção, a situação não for regularizada”, detalha Inaldo Dantas.