BUDA DE JADE E QUERUBINS

O Buda de Jade é uma história ocorrida na China antiga, na dinastia Han, no século I e II ac. É uma narrativa que trata de amor, simplicidade e estética. Um habilidoso artesão, homem simples do povo, tinha como dom a arte de esculpir o Buda de Jade de forma magnífica. Nenhum outro artesão conseguira tal esmero estético, nem mesmo os artistas da Academia Imperial. Conhecedor de tal fama, o imperador convida-o ao palácio para fazer um Buda de Jade em tamanho natural, um empreendimento que demandava tempo. Nesse ínterim, a princesa filha do imperador, acompanhava passo a passo a execução da obra, até transbordar de paixão o seu coração pelo escultor. A distinção de classe impede a manifestação desse amor entre a princesa e o artista e ambos decidem fugir para viver um amor clandestino. Ela sacrifica o seu status de princesa para enfrentar as agruras da sorte no anonimato, tudo para não trair o que é involuntário e verdadeiro no ser humano, as ações advindas do sentimento que poeticamente chamamos do coração. Este sentimento está estampado na janela da alma, sem desejos apequenados, medíocres, longe do brilho falso das honrarias, a não ser a paixão pelo que vem da alma, dos olhos sem aldrabas nem aguilhões.
Os dois enamorados, irmanados no mesmo espírito, sofrem a perseguição cruel do imperador. No dizer de Confúcio os governos dos déspotas são piores do que as feras. A sanha feroz do imperador perseguia de distrito em distrito, de cidade em cidade, o artista, que por onde passava deixava o rastro da sua arte, o Buda de Jade mais perfeito de toda a China. Esculpia pelo prazer de esculpir. Os seus sentidos eram todos voltados para a estética, o seu corpo suava sobre as vestes curtas ao segurar o cinzel. Da pedra esverdeada, brotava a poesia, o que o levou à prisão e à morte. Ao ser preso foi inquirido pelo espião do imperador: - por que deixou-se prender? - Porque não posso trair a minha arte.
O artista viveu na grandeza e na simplicidade até a morte, seguindo os ensinamentos do budismo, cuja essência consiste em não exagerar a própria importância em detrimento dos outros, não estabelecer falsos padrões de comportamento, não ser injusto em suas palavras, para que não enganem, caluniem e abusem dos outros.
Lá do alto, os querubins inspiraram estes ensinamentos: que muitos são os amigos dos ricos, a fazer coro dos seus desejos ocultos e da sua insensatez. Onde chega a presunção, o escárnio, chegará a desonra. Não te tornes sábio diante dos teus próprios olhos.
Há budas e querubins, os do alto são repletos, os decaídos são ocos.

Edílson Freire Maciel.
Articulista