Produtores de queijos artesanais pedem socorro


Ninguém precisa ser professor de história para saber que o queijo de Caicó é uma tradição que se perpetua desde os primeiros anos do povoamento da região, uma condição pertinente à atividade agropecuária como base econômica firmada em torno da cultura do gado, nascida com o sertanejo seridoense. Nem por isso tem sido suficiente, nos dias de hoje, para que esse mesmo produto, reconhecido mundo afora, seja aceito em sua totalidade no mercado de consumo.

O fato é que os pequenos e médios produtores de queijo artesanal e seus derivados, especialmente de Caicó, que dá nome à sua qualidade, estão enfrentando uma situação nunca vivida antes – sem falar na crise por falta de incentivos financeiros –, por causa da legislação em vigor que determina a fiscalização da produção e a comercialização dos queijos artesanais que terão de ser refrigerados, rotulados e ter o selo de inspeção.
O debate em torno dessa questão vem desde antes da publicação, no ano passado, do decreto estadual (nº 20.640, de 25/07/2008) que deu um prazo de dois anos para que estes produtores adequem suas instalações e procedimentos ao regulamento pela lei estadual (nº 9.067), publicada no mesmo ano, que trata sobre a agroindústria familiar, comunitária ou artesanal de produtos de origem animal no estado do RN.
O que se constata, principalmente no mercado da capital potiguar, maior destino do produto, com a fiscalização imposta o queijo passou a ser boicotado pelo consumidor comum e, pior, pelos próprios representantes dos seguimentos de atacadistas e varejistas de supermercados, exigindo a rotulação com o selo de inspeção e o armazenamento refrigerado, o que não tem sido fácil para o homem do campo que vive dessa atividade para o sustento da família.

Fortalecer com associação
Diante dessas adversidades, os pequenos e médios produtores rurais da região entenderam que somente a união poderá fortalecer o setor. Para tanto, uma associação de produtores de queijos já começa a ser implementada em Caicó, cujo projeto vem sendo estudado por pessoas que conhecem o problema, entre as quais, o comerciante e produtor rural Altévio Clemente Filho, mais conhecido por “Tevi”. Segundo ele, o estatuto da entidade está praticamente concluído e que, provavelmente, nos próximos dias da semana seja criada, oficialmente, a entidade. “Não penso nem na possibilidade de ser presidente da associação, o meu desejo é que possamos ter instrumentos de enfrentarmos, juntos, essas dificuldades, que são muitas”, revelou.
Para “Tevi”, cujos pais e avós já trabalhavam com queijo, a expectativa é encontrar meios de solucionar a questão dos pequenos produtores, tendo em vista que as novas medidas oneram os custos, penalizando quem vive da produção artesanal em suas localidades rurais. “Posso até citar o exemplo do estado de Pernambuco, na região do Agreste, onde lá a vacaria que produz o leite cujo rebanho é vacinado e inspecionado pela autoridade sanitária, o dono da queijeira tem sua produção liberada para a venda”, explica otimista.
De acordo com dados fornecidos por “Tevi”, aproximadamente 400 mil quilos de queijos são produzidos por mês na região Seridó, sendo mais de 240 toneladas do queijo de manteiga e outras 150 toneladas com e de coalho, o que equivalem, praticamente, a 100 toneladas produzidas semanalmente, com grande parte saindo para ser comercializada em outras praças. Ainda segundo Altévio Filho, em Natal somente uma rede de supermercados comercializava cerca de 100 mil quilos e teve que cancelar os contratos de compra do produto.”É lamentável, precisamos discutir essa problemática para encontrarmos a saída”, sugere Altévio.

Contaminação está em casa
Em relação à qualidade de alimentos consumidos, pesquisas revelam que alguns alimentos são contaminados na própria casa do consumidor. Os dados nacionais revelaram que, de 1999 a 2007, ocorreram 5.699 surtos de doenças transmitidas por alimentos. Em primeiro lugar, na lista do Ministério da Saúde, estão os ovos crus ou mal cozidos, principalmente nas maioneses caseiras. Depois vêm as comidas que misturam presunto e queijo, como lasanha e misto quente. Em seguida, as carnes vermelhas mal passadas, sobremesas como mouses e pavês e, em quinto lugar está a água.

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[Blog do Jornalista Bosco de Araújo]