Sem registro

Texto de Paulo Correia - Jornalista
Eles estão em todos os lugares, em todos os horários, e mesmo assim passam despercebidos da maioria das pessoas. Eles estão nas portas de escolas e igrejas, e mesmo assim não conseguem estudo ou caridade maior que míseros trocados dos freqüentadores desses encontros religiosos. Os mendigos já representam, na metrópole São Paulo, mais de 15 mil pessoas. Homens, mulheres e crianças que vivem em baixo de pontes, de passarelas, de portas fechadas de lojas. Por aqui, os números são menores, mas se nada for feito na melhoria das condições de vida dessas populações, uma São Paulo de pedintes surgirá logo, logo.
O jornalista Tomás Chiaverini, autor do livro “Cama de cimento”, lançado em 2007, mostrou como é a realidade dessas pessoas que são verdadeiras sombras para grande parte dos atarefados cidadãos de bem, e cristãos de boa índole. Homens que já perderam família, amigos, empregos, e já não encontrando razões maiores para viver em sociedade, afastaram-se de tudo e todos, e começaram a viver das sobras do mundo. Das pontas de cigarros no chão, dos restos do almoço, da camisa furada. Passaram a tolerar o frio cortante da noite sem teto, e acostumaram seus olhos com as barbaridades das ruas.
Nas capitais do Brasil, alguns bons trabalhos de ajuda feitos por entidades filantrópicas e secretarias de assistência social de prefeituras tem amenizado essa problemática, e em alguns casos, até conseguem ressocializar algumas dessas pessoas. Mas são números pequenos, insignificantes até. A verdade é que uma massa humana dorme ao relento todas as noites, e estão sujeitos a todos os perigos nas 24 horas do dia. E sem a merecida atenção dos governantes e de todos nós. Também somos culpados por todo esse sofrimento, somos responsáveis por essas seguidas gerações de pobres de tudo.
Essa cegueira que afeta a todos nós, tornando alguns até secos com o sofrer alheio, ainda vai desaguar muita sujeira. Mais do que já despeja hoje. E ai não irá adiantar muito pedir proteção a Deus, porque até ele já deverá ter agüentado demais a nossa brutalidade, o nosso individualismo, e a nossa concepção usurpadora do mundo.
Talvez nesse dia acordemos.