Os indomáveis
João Maia e Robinson Maia fecham aliança estratégica este ano, mas de olho em 2010; a idéia é unir forças para evitar manobras dos caciques da política potiguar
Por Diógenes Dantas
Juntos chegaremos lá. A frase de Afif Domingos na campanha presidencial de 1989 já se perdeu no tempo, mas pode ter inspirado o deputado federal João Maia (PR) e o deputado estadual Robinson Faria (PMN) na criação de um bloco para atuar nas eleições municipais deste ano. Ignorados pelos caciques no pleito de Natal – sequer foram ouvidos pela aliada Wilma de Faria (PSB) no acordo com Garibaldi Filho (PMDB) em favor de Fátima Bezerra (PT)-, os dois parlamentares decidiram navegar juntos até 2010, quando poderão disputar o Governo do Estado. Em Natal, eles apóiam Micarla de Sousa (PV).
“Eu estou conversando com João Maia de maneira aberta e franca. Sem subterfúgios. Nossos grupos podem eleger mais de 60 prefeitos nestas eleições. Essa base terá força para influir na eleição daqui a dois anos. Quem estiver melhor avaliado nas pesquisas será o candidato ao Governo”, resumiu o deputado Robinson Faria, presidente da Assembléia Legislativa e do PMN – Partido Mobilização Nacional.
João Maia, que preside o Partido da República, segue a mesma linha: “Não há motivo para que caminhemos separados ou que antecipemos qualquer disputa. A união de esforços favorecerá os municípios que formam nossa base de apoio. O grupo do deputado Robinson Faria tem muito a contribuir com os liderados de João Maia e de Vivaldo Costa. E isso está ocorrendo naturalmente, sem forçar a barra”.
A união dos dois políticos é para deixar qualquer cacique com a pulga atrás da orelha. Além de presidir o PMN, Robinson Faria exerce influência noutras duas legendas: o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), dirigido pelo deputado Ezequiel Ferreira de Souza, e o PP (Partido Progressista), comandado por Pedro Lisboa, ex-prefeito de Passa e Fica. O grupo de Robinson Faria espera eleger de 35 a 40 prefeitos este ano, a maioria no Agreste.
Já o grupo de João Maia aposta na eleição de 30 prefeitos. A principal base é o Seridó, mas o dirigente do PR marca presença nas campanhas de Assu (Fátima Morais), Martins (Heraldo Martins), Caraúbas (Eugênio Alves), Ceará-Mirim (Antônio Peixoto) e Mossoró (Renato Fernandes).
Robinson e João Maia passaram a trocar figurinhas desde o início do ano. O presidente da Assembléia Legislativa convidou o líder do PR para visitar o Agreste em maio, em visitas a Monte Alegre, Nova Cruz e Nísia Floreta. E João Maia recebeu Robinson no Seridó durante a Festa de Sant’Anna, quando juntou um grupo de prefeitos na casa da família de Vivaldo Costa (PR) e do prefeito Bibi Costa (PR), em Caicó.
O apoio a Micarla de Sousa em Natal foi um dos pontos de convergência entre Robinson e João Maia. Simpatizantes do projeto eleitoral da candidata do Partido Verde, eles resistiram aos nomes apresentados pelo PSB (Rogério Marinho) e pelo PT (Fátima Bezerra, Virgínia Ferreira e Fernando Mineiro).
A falta de um consenso na base aliada de Wilma de Faria e a resistência ao nome de Fátima Bezerra quase resultaram no lançamento da candidatura de João Maia à Prefeitura de Natal com o apoio de Robinson, de Garibaldi Filho e de aliados da governadora, que chegou a dar o aval caso a petista desistisse da disputa, na véspera da convenção do PT. A manobra não deu em nada. Fátima manteve-se candidata e Robinson e João Maia confirmaram o apoio a Micarla.
A opção por Micarla foi uma resposta dos dois aliados à aliança do PSB com o PMDB em favor de Fátima Bezerra (PT), apadrinhada pelo prefeito Carlos Eduardo Alves (PSB). Na visão de políticos ligados a Robinson Faria e João Maia, o chamado “acordão” foi fechado para favorecer o prefeito na sucessão estadual daqui a dois anos. Wilma, Garibaldi, Henrique Alves (PMDB) e a turma do PT juram, de pés juntos, que não tem nada a ver, que não há acordo nenhum com vistas a 2010, que estão tratando apenas de 2008. Não é o que parece. Nem a Velhinha de Taubaté (personagem de Luís Fernando Veríssimo) acredita no que eles dizem. Os caciques só pensam “naquilo”.
Portanto, a eleição de Micarla cresce em importância para os planos futuros dos dois políticos. A vitória da pevista poderá enfraquecer o projeto de Carlos Eduardo Alves, que já surge como líder nas pesquisas de opinião quando o assunto é o Governo.
Na última pesquisa Consult/Tribuna do Norte, Carlos Eduardo estava em primeiro na preferência do eleitorado natalense para o Governo. O prefeito obteve 33,6% das intenções de voto, seguido por Rosalba Ciarlini com 23%, João Maia com 5,4% e Robinson Faria 4,6% das citações (pesquisa registrada na 3ª Zona Eleitoral, sob o registro de nº 1033/2008).
De modo velado
A sintonia entre João Maia e Robinson Faria nem sempre foi das melhores. Com o aval da governadora, João tentou atrair Robinson para o PR. O presidente da AL entendeu que teria o controle da legenda, conforme acerto com Wilma. João não permitiu. A governadora fez de conta que não era com ela. Robinson montou o PMN.
Na eleição de 2006, o filho de Robinson, Fábio Faria (PMN), foi o mais votado para deputado federal com 195.148 votos, superando João Maia em 1.852 votos. O dirigente do PR foi votado por 193.296 eleitores. Já para deputado estadual, o campeão foi Robinson com 70.782 votos.
Por conta da força eleitoral tanto de um como do outro, Robinson Faria e João Maia surgiram como alternativas para 2010, ao lado da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), de Carlos Eduardo Alves e do vice-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB).
Os correligionários de João Maia viam com certa estranheza as demonstrações de preferência da governadora Wilma de Faria em favor de Robinson Faria no início do segundo mandato. Já os liderados do presidente da Assembléia Legislativa preocupavam-se com o avanço da base de João pelo interior do estado.
O “acordão” da eleição de Natal zerou esse jogo. Depois de terem levado um “canto de carroceria” dos caciques da política potiguar, João Maia e Robinson Faria descobriram que possuem mais afinidades do que divergências. Juntos, eles querem chegar “lá”. O entendimento com o senador José Agripino (DEM) em torno de Micarla na capital é uma prova de que o leque se abre para 2010. E Wilma de Faria passou recibo. Ela foi reclamar de João Maia para a mãe dele, dona Anunciada: “Precisava ele se juntar a José Agripino?”, indagou a governadora. Por enquanto, paz de Cristo entre Robinson e João Maia. Até quando?