Vento Litoral

*Por Rubens Lemos Filho - Jornalista e Abcdista

As noites em Brasília são agasalhadas pela suavidade do vento litoral magnetizado por Renato Russo. O dia pode ter sido quente e seco de trabalho e agitações políticas, mas todos ficam calmos e inspirados sob a lua vigilante e fria do Plano Piloto.
O ABC imperou no primeiro tempo e administrou no segundo, depois de matar o Gama, que há muito tempo merecia sofrer, pelas tristezas que nos causou antigamente.Antigamente, porque a noite deste sábado deve atravessar os bares de todas as asas e quadras onde houver um abecedista, como aqueles que formaram um vibrante grupo na arquibancada do Mané Garrincha. Alegria superior.
O ABC começou eletrizante logo no chute de Éder, que o goleiro deles salvou. O time estava frenético, mas o espírito era o da serenidade dos vitoriosos. O ABC mostrou uma segurança animadora, como já havia desenhado fora de casa contra o Avaí. Estava mais leve, mais solto, mais tudo. Foram os sopros do vento litoral que certamente trataram de colocar Alysson em campo na sua verdadeira posição. De lateral-esquerdo ou ala, como queiram os modernistas. Por ali, com ele -, que entrou porque Vainer se machucou porque haveria de substituir Rogerinho - o ABC ilustrou o mapa dos três pontos preciosos. Um golaço, o dele. Bateu com personalidade. Poderia ter feito outros dois, o baiano. Jogou bem Alysson, bem também jogou Bosco, que botou creme de leite na picanha do Gama.
O lance foi simples - e como é maravilhosa a simplicidade... Valdir Papel para Éder, giro no próprio corpo e passe até Bosco. Chute rasteiro e no canto. Sem fórmulas, sem equações. Éder, por sinal, foi muito mais jogador que na primeira partida.
Saiu para que o meio ficasse ainda mais fechado, contenção ao avanço natural do adversário, de atacantes péssimos na pontaria. Azar o deles. Sorte a nossa ter Márcio Santos, Ben-Hur e Paulo César, jogando o que jogaram. É fora de casa que eles devem mesmo sobressair. E Paulo Musse não pode ser analisado.
O que ele fez nos 2 a 0, não foi coisa de um ser humano normal. Foi de um monstro consagrado se multiplicando na trave. Saímos da multidão, estamos na vitrine da Série B. Santo vento litoral.

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