Teremos que aprender a conviver com o vírus, diz Marcelo Queiroz


O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomercio), Marcelo Queiroz, tem bons motivos para estar preocupado.

Passados 100 dias de pandemia do novo coronavírus, a maioria das empresas do segmento que ele representa já baixaram na UTI, outras já fecharam as portas e a maioria precisará se reinventar completamente.
Nesta entrevista ao Agora RN, Queiroz fala francamente das dificuldades do setor diante desse tsunami chamado coronavírus, mas faz um apelo aos empresários: não desanimem, muita coisa vai mudar.

AGORA RN - Nesses 100 dias de boa parte do comércio fechada por conta da pandemia, qual o cálculo estimado de prejuízos dos setores do varejo e serviços, incluindo o setor hoteleiro do RN?

MARCELO QUEIROZ - Só entre 16 de março e 20 de junho, o comércio varejista potiguar deixou de faturar mais de R$ 300 milhões. Nos meses de abril e maio, cerca de 10 mil empregos formais foram perdidos só no comércio e serviços do RN. Nossa taxa de desemprego, que era de 11,2% em fevereiro, atingiu em maio 12,3%. Alguns especialistas afirmam que, até meados de outubro, cerca de 77 mil potiguares devem perder seus empregos, entre formais e informais. É muita gente.

AGORA - Qual o impacto disso sobre os empregos e o faturamento das empresas?

MQ - Passados 100 dias de isolamento, temos hoje no Estado 46 mil empresas fechadas por força dos decretos do Governo do Estado. Estas empresas geram cerca de 51 mil empregos e pagam R$ 60 milhões em salários. Além da folha de pagamento, ainda temos aluguel, contas de água, energia, internet, segurança, sistemas de vendas, impostos, fornecedores… É uma carga muito grande. Mesmo as lojas que têm o seu funcionamento permitido, por estarem inseridas nos estabelecimentos considerados essenciais, registram quedas entre 35% e 70% em suas vendas.

AGORA - Os segmentos que o senhor representa temem a possibilidade de uma segunda onda do novo coronavírus?

MQ - A segunda onda do novo coronavírus é uma possibilidade em todo o mundo. Países como a China, onde tudo começou, já começam a viver essa realidade. Aqui no Brasil, e consequentemente no Rio Grande do Norte, não deve ser diferente. E pelo menos até que uma vacina seja encontrada e produzida em massa, o vírus é uma coisa com que todos nós teremos que aprender a conviver. Na situação crítica nós já estamos, então o que temos que fazer é aperfeiçoar nossos conhecimentos para esse “novo normal”, com restrições de funcionamento e atendendo a todas as normas que são recomendadas pelas autoridades de saúde.

AGORA - Quais os setores que, na sua avaliação, precisarão de maior atenção no pós-pandemia?

MQ - Todos os setores, cada um com suas peculiaridades, precisarão de um olhar cuidadoso no período pós-pandemia. Mas acredito que os setores de turismo e de eventos, que foram os primeiros a serem afetados, e os últimos que devem voltar a funcionar, precisarão de um suporte maior.

AGORA - O senhor acredita que só medidas protocolares de biossegurança nos pontos comerciais serão suficientes para conter a velocidade de contágios?

MQ - Conter a velocidade de contágio é uma coisa que depende de muitos fatores: a adoção de distanciamento entre clientes e colaboradores, o aumento dos cuidados de limpeza dos ambientes e equipamentos, disponibilização de álcool em gel a 70%, entre outras. A população dando sua parcela de contribuição, adotando as medidas de segurança e higiene, como o uso de máscaras. E o poder público garantindo o atendimento adequado.

AGORA - Tendo em vista a experiência de outros estados, que abriram o comércio e tiveram que voltar atrás, o senhor considera que os shoppings estão prontos para voltar neste momento em Natal?

MQ - Dados da Associação Nacional de Lojistas de Shoppings apontam que entre 15% e 20% das lojas não irão reabrir suas portas após a retomada porque ou já quebraram ou vão quebrar a qualquer momento. Aqui no Estado isso equivale a algo em torno de 150 a 200 lojas fechadas, 1.300 empregos que podem se perder e R$ 2,14 milhões em massa salarial perdidos por mês. São dados bastante preocupantes. Eu diria que, dentro dos critérios estabelecidos no plano de retomada da economia, sim, os shoppings estão prontos. E abrirão com toda a segurança possível.

AGORA - O senhor considera que existe cultura de boa parte do varejo potiguar para as soluções oferecidas pelo comércio eletrônico?

MQ - A cultura do comércio eletrônico ainda não chegou a todos os estabelecimentos, principalmente nas micro e pequenas empresas. Mas a pandemia mudou o perfil do consumidor, que, para não correr riscos, aderiu às compras online. E diante disso, as empresas, que realmente ainda possuem a cultura de balcão precisarão se reinventar.

AGORA - O que o senhor diria aos empresários potiguares neste momento como uma mensagem da Fecomércio RN?

MQ - Que não desanimem. Está na nossa gênese nos reinventarmos e haveremos de fazer isso novamente nesta retomada.