O dia que um “VAMPIRO” causou pânico em Natal nos anos 60



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Você acredita em vampiros? Pois na década de 60 uma dessas criaturas causou o maior pânico na pacata capital potiguar. Foi assim: Um jornalista, entediado com a falta de pautas em Natal – ninguém matava ninguém, ninguém roubava ninguém, essas coisas que hoje em dia tem de sobra – se sentiu na obrigação de produzir algum conteúdo mais interessante para o jornal Diário de Natal, para conseguir movimentar um pouco as vendas, que até então estavam baixas. A falta de assunto era tanta que o jornal simplesmente não tinha pauta e foi para a rua com um espaço em branco.
Foi aí que o jornalista Sanderson Negreiros teve uma brilhante ideia: criar uma fake news. O termo talvez nem fosse usado na época, mas a notícia – falsa, é claro – dizia que um vampiro teria sido visto nas proximidades do bairro Mãe Luíza lendo quadrinhos e espantando pessoas com sua capa preta.
O que para os dias de hoje parece uma grande besteira, na época causou um pandemônio na cidade. Com medo de ataques, as crianças não brincavam mais nas ruas, os casais não namoravam mais na Praia do Meio e as pracinhas da cidade ficaram desertas.

ROTINA DE NATAL É ALTERADA

A notícia mudou completamente a rotina do natalense. Não se falava em outra coisa. O principal objetivo de Sanderson rapidamente foi alcançado: as vendas do Diário de Natal pularam de 2 mil para incríveis 12 mil exemplares/dia. A cidade inteira queria saber das novas aparições do vampiro.
A história ganhou tanta repercussão que o Vampiro de Areia Preta começou a entrar no imaginário da população. Muita gente escrevia cartas para a redação do Diário de Natal apontando supostas aparições do dito cujo.
A partir daí, Sanderson deu continuidade à saga do vampiro. Houve uma construção de personalidade do personagem, que se escondia em Areia Preta e não atacava ninguém, apenas corria atrás das pessoas para assustar – um vampiro gente boa.
Fotografias do vampiro começaram a ser publicadas no jornal, após outro jornalista se vestir com uma capa preta e posar para verdadeiros books nos principais pontos da cidade – detalhe que o vampiro sempre era fotografado de costas.

O FIM DA SAGA

Com o medo escancarado da população, a polícia entrou em ação e organizou uma força-tarefa para prender o vampiro, afinal, além das reportagens, várias pessoas garantiam ter visto o bicho.
A noite em Natal tinha um ar de cidade abandonada, já que ninguém mais saía às ruas. Não existem relatos oficiais, mas acredito que o comercio noturno da cidade estava à beira do colapso durante aquela época.
A situação chegou ao ponto do secretário de Segurança Pública da época conversar com o diretor do Diário de Natal dizendo que as matérias estavam causando sérios transtornos à ordem pública. Os concorrentes do Diário de Natal começaram a publicar incansavelmente que a história era falsa, afinal também existia um incômodo pelo crescimento súbito de vendas do Diário, enquanto os demais jornais mofavam nas bancas por não terem nenhum furo de reportagem sobre o vampiro de Areia Preta.
O fim do vampiro não foi com água benta nem com bala de prata. Foi simples, assim como seu aparecimento. Certo dia um homem ficou bêbado, se vestiu com uma capa preta e saiu correndo de braços abertos na orla da Praia do Meio. Com remorso pelo pobre rapaz, Sanderson vestiu seu amigo Antônio Melo com a capa preta do vampiro, bateu uma foto e publicou no outro dia a seguinte manchete: “O vampiro se despede: Adeus, Natal, não voltarei mais”. E assim chegou ao fim uma das maiores fake news da história do Rio Grande do Norte.
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