O começo da dominância do Flamengo não é uma boa notícia para os aspirantes à Série A do Brasileirão




O ano de 2019 começou para o Flamengo com promessas bem grandiosas. As chegadas de jogadores como o atacante Gabriel Barbosa e o meio-campo Giorgian de Arrascaeta, além do reforço de Rodrigo Caio na defesa, colocaria o Flamengo no patamar de clube a ser batido por títulos.
Tal expectativa foi confirmada já no Campeonato Carioca, com o Flamengo ganhando o trigésimo-quinto título na competição. Vencendo mais uma vez o Vasco na final, as esperanças eram de que esse seria apenas o primeiro troféu dentre vários que seriam disputados ao longo da temporada.
Só que enquanto o elenco do Flamengo oferecia no papel opções vastas em praticamente todos os setores do campo, a realidade era outra. Muitas vezes o título estadual serve como uma plataforma até ilusória, uma vez que os adversários regionais podem estar muito abaixo de você – e de seus rivais a níveis nacional e internacional. E esse parecia ser o caso tanto para o Flamengo, quanto para os seus rivais Fluminense, Botafogo e Vasco.
Mas esse quiçá não era o fator principal por trás das “travas” flamenguistas. Os nomes do Flamengo continuam fortes, e estão entre os melhores jogadores disponíveis em solo brasileiro. A mais nova aquisição de peso, o ex-jogador do Fluminense, Gérson, pode não ter uma passagem de muito destaque na Itália com Roma e Fiorentina. Mas ele já é bom o bastante para já chegar como um jogador bem superior aos seus pares no resto dos times da Série A; e também jovem o suficiente para evoluir muito enquanto joga pelo Flamengo.

De fato, o “problema” era Abel Braga. Mesmo em uma era onde se procura evitar o hábito de culpar o técnico por todos os obstáculos que um time encontra em seu caminho, é bem difícil não ver o contrário no caso de Abel no Flamengo.
E uma vez que Abel deu espaço para o português Jorge Jesus, tudo tem se “destravado”. O maior exemplo veio em sua estreia no Maracanã, quando o Flamengo amassou o Goiás em uma vitória acachapante de 6 a 1 sobre um time que havia vencido quatro dos seus últimos cinco confrontos no Brasileirão.
Os palpites de futebol já colocavam o Flamengo como um dos favoritos ao título, junto de Palmeiras e Santos. E com Jorge Jesus nas linhas laterais, gritando em plenos pulmões ordens para os seus jogadores durante todo o jogo, é bem possível que o time supere as expectativas iniciais de ser a segunda ou terceira força do futebol nacional, atrás de um Palmeiras que aspira manter o título da Série A.
Nisso tudo, há também uma mensagem problemática para os times que aspiram sair das divisões mais baixas do futebol nacional rumo à Série A. Já se falava de uma potencial “espanholização” do futebol brasileiro, com duas grandes forças – à época, Flamengo e Corinthians – surgindo por conta da divisão desigual de cotas de televisão.
  
Porém, hoje o que podemos ver no futuro é talvez até mesmo uma “Bayernização” com o Flamengo. Mesmo que as cotas de televisão estejam buscando hoje uma distribuição mais parelha entre os times que estão na Série A, a força do marketing flamenguista graças a uma torcida que se estende bem além da sua sede no Rio de Janeiro pode se tornar o diferencial para coloca-lo em patamar acima dos seus adversários.
Já se pode até fazer alguns paralelos entre Flamengo e Bayern de Munique nessa temporada. Já nas aquisições de Gabriel Barbosa, ex-Santos, e De Arrascaeta, ex-Cruzeiro, o time carioca fez o papel de “predador” no mercado nacional que não é tão costumeiro aqui no Brasil. Já na Alemanha, o Bayern já tem isso como prática ano após ano não só para se fortalecer, mas também para reduzir a força de seus rivais.
Fãs de futebol alemão irão lembrar do Borussia Dortmund comandado pelo técnico Jürgen Klopp que tirou das mãos do Bayern o domínio da liga nacional, e chegou a enfrenta-los numa final da Liga dos Campeões, apesar de ter uma força financeira bem menor que os bávaros. E a resposta do Bayern foi simplesmente comprar os principais atacantes do Borussia, Mario Götze e Robert Lewandowski. Desde então, o Borussia deixou de ser um problema para o Bayern.
Além do comportamento predatório no mercado, o placar de 6 a 1 contra o Goiás não é algo que se vê todo dia. É de se observar se tal prática se tornará rotina, o que pode muito bem acontecer uma vez que Jorge Jesus em seus tempos de multi-campeonatos no Benfica costumava “amassar” seus adversários de menor estatura. Caso isso se confirme, o Flamengo será uma dor de cabeça não só para seus rivais ao título, mas principalmente para os times de menor estatura do nosso futebol, dentro e fora do campo.