Audiência pública discute investimentos no turismo religioso do RN

 

Crédito da Foto: Eduardo Maia

A interiorização do turismo religioso no Rio Grande do Norte foi pauta da audiência pública de iniciativa do deputado estadual Tomba Farias (PSDB), que aconteceu nesta terça-feira (25), no auditório Cortez Pereira, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Uma das questões mais abordadas na ocasião, que contou com a participação de representantes do trade turístico potiguar, além de prefeitos e secretários de turismo de municípios vocacionados com potencialidade no turismo religioso, foi o investimento em infraestrutura.

No Rio Grande do Norte, o principal “case” de sucesso do turismo religioso localiza-se no município de Santa Cruz. É lá que se situa o santuário de Santa Rita de Cássia, onde foi implantada a maior estátua religiosa do mundo. No entanto, o estado conta com vários outros destinos vocacionados para o turismo religioso e que carecem de investimentos por parte do poder público.

Para o deputado propositor da audiência, Tomba Farias, o turismo religioso é um turismo que cresce muito no nosso Estado e no Brasil. “Hoje é um dia que recebemos os prefeitos do Estado, das cidades que tem o turismo religioso como atividade. A nossa preocupação é acharmos soluções para que possamos fazer crescer cada vez mais o turismo religioso”, disse. Para o parlamentar, os municípios com potencial de turismo religioso, como, por exemplo, São Gonçalo do Amarante, Assú, Patu, Mossoró, Caicó, Canguaretama, são carentes de apoio governamental.

“Se hoje Santa Cruz desponta entre os principais polos de turismo religioso do Brasil isso aconteceu porque ousamos e sonhamos. O turismo religioso deu certo em Santa Cruz, dará certo também em outros municípios do estado. Entendo que o Estado deve destinar seus olhos para as cidades de turismo religioso, não apenas para o turismo de sol e mar, segmento para qual é destinado a maior parte dos recursos potiguares. Acho que chegou a hora desse cenário mudar, não é favor nenhum”, explicou.

O coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Fecomércio, George Alexandre Barreto Costa, atentou para a necessidade de divulgação do turismo nas regiões próximas às localidades. “Sabemos que o turismo religioso é uma grande máquina de geração de turistas e de renda, mas não adianta a gente pensar no turismo religioso sem que o poder público faça o trabalho de investimento, em promoção e também no produto, no acesso do visitante ao local turístico. Temos uma característica muito forte do turismo religioso, é um turismo mais regional, rodoviário e pelas redondezas. Sabemos que o turismo religioso do RN já entrou na pauta do Governo, mas é nesse tipo de promoção que a gente vai precisar focar. Precisamos promover no próprio Estado e nas cidades vizinhas. É importante a promoção, mas antes de promover em lugares distantes, podemos promover nas redondezas”, mencionou.

O prefeito de São Gonçalo do Amarante, Paulo Emídio, informou que as três principais localidades de turismo religioso no Brasil são: Aparecida do Norte, Círio de Nazaré e Nova Trento. “Os dois primeiros são conhecidos, mas por que Nova Tentro? Porque eles se organizaram, fizeram uma interação grande com a igreja em Santa Catarina e hoje é o terceiro lugar do turismo no Brasil. Nós do RN temos a única cidade do mundo que tem 27 santos canonizados pelo martírio da fé, então é algo muito forte que temos em São Gonçalo do Amarante. Se a gente tiver um apoio maior da igreja católica, se a gente interagir, podemos fazer uma movimentação católica muito grande na região metropolitana, mas nós temos que arrumar a casa para não queimar o filme. Se for mais divulgado dentro da paróquia, só no entorno, já vamos fazer essa movimentação grande. Estamos no mesmo barco, o que queremos é um fluxo turístico que gere renda e fé”, falou.

A secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Norte, Ana Maria Costa, também falou da importância do turismo religioso no Brasil. “Apenas no feriadão da Semana Santa, o segmento do turismo religioso movimentou 2,7 bilhões de reais no Brasil.  O RN possui vários atrativos e potenciais para turismo religioso. Nós montamos um roteiro do circuito da fé, de 7 dias, que abrange 11 municípios. Mas realmente existe uma grande questão em relação a interiorização do turismo, a infraestrutura. Infelizmente, no RN são poucos os municípios que têm vocação para o turismo religioso e que possui o mínimo de estrutura. O Estado tem 5 polos turísticos que contemplam 75 municípios. Cada polo, mesmo que indiretamente, está ligado ao turismo religioso. A gente tem que entender também que os municípios e a população têm que se envolver nesse processo. Não adianta a secretária de turismo querer fazer esse movimento se toda a população não tiver envolvida, a igreja não tiver envolvida. As vezes o município não tem nem uma pousada para hospedar o turista que chega. Precisamos o mínimo de infraestrutura para atrai os turistas para esses municípios”, indicou.

Já o prefeito da cidade de Patu, Rivelino Câmara, respondeu às falas que antecederam reiterando a cobrança ao poder público de infraestrutura para viabilizar o turismo no interior. “O Santuário do Lima é um santuário construído em cima das serras e que vem se desenvolvendo com grandes dificuldades pela falta de estrutura. Não há como um empresário investir numa cidade sem infraestrutura e quem dá a infraestrutura é o poder público. Mas, em uma cidade com cerca de 13 mil habitantes, o município sozinho não tem condições de, em cima da serra, pavimentar, drenar e dar a estrutura para que o empresário vá lá construir sua pousada”, explicou.

O arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira, também deu a contribuição dele ao debate. De tudo o que eu escutei, vejo que o turismo religioso tem sido um viés econômico de incentivo a emprego, renda, desenvolvimento urbano, regional e isso é muito importante. A infraestrutura básica é importante, certamente os municípios e as paróquias não têm condições sozinhas de arcar com isso. Mas também é muito importante que nós possamos dar toda a assistência para que as pessoas, em qualquer hora que possam visitar aquele local, sejam devidamente recepcionadas”, disse.

Para a analista de Políticas Públicas do Sebrae/RN, Cátia Lopes, temos muitos desafios a superar. “A gente tem uma preocupação muito grande de não cair no ciclo da decadência. Não há hospedagem porque não há fluxo. O fluxo não vai porque não tem investimento. Alguém tem que dar o primeiro passo e romper essa inércia. Precisamos fazer um turismo inteligente. A fé é indutora e a participação da igreja é importantíssima, mas vejo que temos muito trabalho para fazer e temos que sentar e pensar quais são os atrativos que temos, porque esse é um desenvolvimento territorial, não apenas de cada município. Esse conjunto é que forma o grande roteiro para que você faça com que a pessoa saia de casa motivada pela sua fé, mas possa experimentar outras coisas além dessa fé. Num raio de 80 km temos condições de movimentar esse turismo e o grande vendedor desse turismo é a igreja, por isso precisamos nos unir a ela”.

De acordo com o secretário Extraordinário para Gestão de Projetos e Metas de Governo do Rio Grande do Norte, Fernando Mineiro, a orientação da governadora é pela busca de construir um termo de cooperação com os municípios para viabilizar as estradas. “Estamos trabalhando para disponibilizar 30% do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) que hoje é aplicado no setor privado para que possa ser aplicado em infraestrutura. Na visão do governo, nós vamos investir prioritariamente na questão das estradas. A prioridade absoluta é atualizar a conta dos servidores, que nós temos um passivo, claro, mas ao mesmo tempo criando condições para plano de investimento que tem como foco a questão das estradas”, indicou.