Caso conhecido como "A Noiva de Caicó" retrata tragédia nos anos 60



Por Andinho Duarte

Maria Adélia Sobrinha filha do casal José Macário da Costa e Necy Maria Dantas recebeu esse nome em homenagem a irmã de seu pai. Adélia era funcionária do antigo Sesp em Caicó, RN. Moça jovem, despertava atenção pela sua beleza e simpatia. Ocupava naquela casa de saúde a função de auxiliar de enfermagem estando noiva de aliança com um colega de trabalho. Tudo caminhava para o casamento e sua mãe preparava tudo nos mínimos detalhes.
Os funcionários do hospital programaram um passeio para festejar as chuvas abundantes caídas naquele ano. O referido passeio foi marcado para a barragem de Chico Medeiros nas proximidades do sítio Barra do Lajedo próximo ao açude Itans.
A jovem se programou para ir ao passeio mas sua mãe não lhe permitiu já que o namorado também fora convidado. A insistência por parte de Maria Adélia foi muito grande mas não convencia a mãe em deixá-la ir. Em um dia antes do passeio sua prima Maria José e esposo Aragão veio visitar a família. Mazé como era chamada, convidou suas primas Euracy e Adélia para pernoitarem em sua residência que ficava muito próximo ao açude Itans. Além das primas veio também a tia Cristina Dantas e a prima Nailza. Era dia de sábado e chegando a casa do casal a alegria era imensa durando conversas e gargalhadas a noite inteira. A programação do Domingo seria um banho na sangria do açude público.
Chegou o domingo e a animação tomava conta da casa de Mazé. Depois do café da manhã, as jovens se reuniram no quarto para vestirem os trajes de banho. Maria Adélia vestia um maiô verde e ao vestir sua roupa seu cordão de ouro se quebra misteriosamente caindo aos seus pés. Nesse momento Adélia ficou perturbada e todos a olhavam espantados ao ouvir sua tia Cristina dizer-lhe que não era bom sinal. Adélia ficou preocupada pois era supersticiosa. Pensou um pouco, pegou o cordão quebrado e colocou sobre a penteadeira. No carro tipo Rural propriedade de Aragão as meninas faziam a festa, Mazé porém estava grávida de alguns meses. O esposo da anfitriã para o carro e todos descem para olhar a grande cheia do majestoso açude. Pelo fato do Itans ser próximo a baarragem de Chico Medeiros onde estavam o passeio dos funcionários do Sesp, ouvia-se a festa que acontecia naquele lugar. Naquele momento Adélia pede a Aragão para irem até a barragem argumentando que aquele lugar estava bastante animado. Todos entraram no carro e seguiram em destino ao passeio.
Chegando ao local, Aragão alerta aos familiares para não subirem para a parte de cima da barragem, já que a mesma sangrava com uma lâmina de mais de uma metro de altura. O esposo de Mazé pediu para que todos ficassem na parte de baixo pelo perigo que as águas poderiam causar. Sentada em uma pedra fica Mazé, Aragão, Cristina e Euracy. Sem ninguém perceber Adélia e Nailza sobem para a barragem a fim de encontrar o grupo do Sesp.
Adélia nadava como ninguém, todos os tipos de nados. Junto com sua prima Nailza nadavam pela barragem. Ela porém, estava com problemas de audição e não ouvia o barulho da queda d'água. Cada vez mais a jovem se aproxima da parede nadando de costas. Existem relatos que muitas pessoas gritaram para ela voltar mas a mesma não escutava. Existem relatos que Dr. Onaldo , grande amigo de Adélia estava pra chegar ao passeio e no momento que ele chegou ela o viu dispersou e caiu da parede da barragem. Mas diante dos que estavam presentes a jovem desceu na sangria da barragem caindo de uma altura imensa. Neste momento o desespero tomou conta de todos. Aragão e familiares são alertados de que alguém desceu na sangria e tentam ver o corpo passar. Mazé se dá conta de que Maria Adélia e Nailza sumiram e logo avista a prima em prantos dizendo que a outra prima desceu na sangria das águas. Euracy e Cristina entram em pânico e buscam ajuda enquanto Mazé sente-se mal sendo conduzida para sua residência com sua tia Cristina. Euracy permanece no local na esperança de encontrar a irmã com vida. O casal Aragão permanecem em casa e a movimentação na parede do Itans é bastante grande.
Na barragem de chico Medeiros nenhum sinal da moça. Choro e desespero toma conta dos amigos e colegas de trabalho. Alguém teve a ideia de buscar um pescador para fazer o resgate, sendo que o mesmo encontra o corpo enganchado na parede mas não consegue retirá-la das águas. O pescador pega a jovem pelo maiô mas a força da água não permite o resgate sendo necessário usar cordas para realizar o salvamento. No momento do resgate a comoção é grande ouvindo-se gritos e choro por toda parte. Dr. Onaldo pede calma ao grupo e tenta reanimá-la com massagens e técnicas de respiração. De repente é providenciado um carro que leva a jovem ainda com vida para o hospital. Adélia encontrava-se com uma perfuração na cabeça localizada na fronte. No hospital usaram todos os recursos mas infelizmente sem sucesso, a jovem foi a óbito.
A notícia logo correu e chegou a zona urbana. Na casa de seus pais, sua irmã Evani encontrava-se sozinha e sua mãe Necy teria saído com as filhas Eufrásia e Nadir para rezar um terço na casa de um amigo falecido. Ao chamarem Necy para noticiar o acidente, sua reação foi tranquila já que a mesma acreditava que sua filha estaria na residência de Aragão e não no passeio.
Dona Necy ainda foi ao hospital ver a filha mas foi conduzida para a casa por familiares. De fato, só acreditou na notícia quando o corpo chegou em sua residência a rua Joel Damasceno.
Sua mãe sempre muito forte, resolveu sepultar a filha vestida com seu vestido de noiva, sendo que Maria de Tibúrcio foi quem preparou tudo. O funeral da Noiva foi de grande repercussão na cidade, pela sua beleza, pela sua família e pelo trágico acidente. Vale salientar que a causa mortis foi traumatismo no crânio.
Acompanhado por uma grande multidão, o corpo foi sepultado no Cemitério São Vicente de Paulo na parte de cima onde está encravado seu belo retrato. A velha Necy nunca a esqueceu, disse que seu túmulo só seria aberto para a mesma depois da sua morte ( De fato só foi aberto para Necy), trancafiou o maiô em um baú e nunca mais abriu, assim como sua corrente e pertences pessoais. O noivo de Adélia recitou poemas sobre o caixão de sua noiva falecida, prometendo-a nunca casar-se.
Anos após o acidente, muitas pessoas relatavam terem visto nas madrugadas a imagem de uma noiva a vagar pela casa ou refletido no espelho antigo da sala.
Este fato aconteceu em 1961, o tumulo de Adélia só foi aberto para sua mãe em 1994, 33 anos após seu falecimento como determinou a matriarca da família.
Este acontecimento ficou marcado para a família e todos que testemunharam os fatos que são sempre contados em versões diferentes pelos mais velhos.


Autor: Andinho Duarte