O escândalo sexual na Igreja Católica



Um novo relatório divulgado pelo Supremo Tribunal do estado da Pensilvânia, EUA, denunciou casos de abusos sexuais praticados por mais de 300 padres da Igreja Católica contra mais de mil menores de idade, ao longo dos últimos 70 anos.
O documento, de mais de 900 páginas, foi divulgado na última terça-feira, 15, e revela, mais uma vez, a obscuridade da entidade em relação a casos de pedofilia.
Com riqueza de detalhes, o relatório demonstra como a Igreja Católica, uma das instituições mais poderosas do mundo, trabalhou para encobrir os abusos sofridos por crianças e jovens. Em um dos casos, o padre engravidou uma menor, ajudou a fazer o aborto e teve permissão para permanecer no ministério. Em outro, um padre confessou ter violentado anal e oralmente mais de 15 meninos. Já um terceiro colecionava “prêmios”, como urina, pelos pubianos e sangue menstrual de quem ele abusava.
“Sabemos que o abuso infantil na igreja ainda não desapareceu porque estamos cobrando dois padres, em duas dioceses diferentes, por crimes que se enquadram no estatuto de limitações”, diz o relatório, que afirma que a maior parte dos casos de abuso é antiga, embora dois tenham ocorrido em 2010.

Casos rotineiros
Os casos descritos na Pensilvânia, no entanto, não são incomuns se olhados de uma perspectiva mundial. A Igreja Católica, ao longo dos anos, já se envolveu em diferentes escândalos de assédio ou abuso sexual contra menores de idade, envolvendo tanto meninos quanto meninas.
Também na última terça-feira, por exemplo, a polícia chilena fez inspeções em duas igrejas diferentes em busca de informações sobre denúncias de abuso sexual praticados contra jovens e crianças. No Chile, porém, parece que a Igreja Católica, aos poucos, vem tomando medidas para coibir o crime.
Recentemente, o Vaticano decretou a expulsão do religioso Abel Pérez, que confessou ter abusado de 14 menores de idade, desde a década de 1970, no Chile. De origem espanhola, Pérez, que está atualmente no Peru, admitiu os abusos em 2010, com duas vítimas revelando os ataques sexuais sete anos depois, em 2017, quando reuniram coragem para denunciar.
Em janeiro, o Papa Francisco visitou o Chile e precisou enfrentar certa resistência do povo chileno. Isso porque, assim como acontece em toda a América Latina, a Igreja Católica tem perdido a influência no país – ainda é forte, mas não tanto quanto antes. Em vários países, a perda de influência é, justamente, devido a escândalos sexuais.
Não é apenas no continente americano que os religiosos da Igreja Católica estão enfrentando denúncias de abuso sexual. Na Austrália, os crimes também são preocupantes. Em maio de 2018, o arcebispo Philip Wilson, de 67 anos, foi considerado culpado por acobertar casos de abuso sexual de padres, crime pelo qual era acusado desde 2001.
Wilson acobertou os crimes do padre James Fletcher, que foi condenado em 2004, por nove casos de abuso sexual praticados contra coroinhas. Fletcher morreu dois anos mais tarde. Wilson, porém, teria sido alertado por dois coroinhas de que o antigo padre estava abusando das crianças. O arcebispo, que era assistente de Fletcher na época, não tomou nenhuma providência.
Apesar desse ser o caso mais recente, o problema na Austrália é ainda mais profundo. Em dezembro de 2017, foi divulgado um relatório que revelou décadas de abuso sexual infantil em escolas, organização e instituições religiosas. O documento ainda listou algumas recomendações para que os casos fossem combatidos.
Já em fevereiro de 2017, um outro relatório revelou quase 4,5 mil casos de pedofilia na Igreja Católica, ocorridos entre 1980 e 2015, na Austrália. O documento traçou o perfil das vítimas, mostrando que 78% dos denunciantes eram homens e 22% mulheres. A idade média das vítimas foi de 11,6 anos. As denúncias foram feitas, em média, 33 anos após os abusos terem sido cometidos.
Escândalos sexuais envolvendo a Igreja Católica também ocorreram na Europa. No Reino Unido, em 2016, a Igreja Católica foi acusada por conta de uma denúncia de abuso sexual envolvendo 11 crianças em um antigo orfanato. O ex-diretor da Casa de St. William, no condado de East Yorkshire, James Carragher, e o ex-capelão, Anthony MacCallen, foram acusados de terem abusado sexualmente de 11 garotos entre 1970 e 1991.

Respostas do Vaticano
A maior crítica à Igreja Católica é a lentidão e as poucas ações tomadas em casos de abuso e assédio sexual contra menores de idade. Por exemplo, no Chile, o Papa Francisco foi alertado de que o bispo Juan Barros era alvo de denúncias por acobertar casos de abusos cometidos pelo ex-padre Fernando Karadima, mentor de Barros.
Mesmo sendo alertado, em 2015, o Papa Francisco nomeou Barros como bispo de Osorno, o que foi visto como um grande erro. Em sua defesa, o pontífice disse que Barros continuaria como bispo, pois não havia nenhuma evidência concreta contra o religioso. Um grupo de vítimas teria insistido que apresentaria provas, mas o papa se recusou a recebê-las.
Devido aos problemas de abuso sexual no Chile, e uma minuciosa investigação feita por uma equipe selecionada pelo Papa Francisco, o pontífice recebeu um pedido de renúncia coletivo de toda a delegação de bispos chilenos, em maio deste ano.
No ano anterior, em 2014, após a Organização das Nações Unidas (ONU) ter divulgado um relatório acusando o Vaticano de violar os direitos humanos, o arcebispo Silvano Tomasi afirmou que, desde 2004, a Igreja Católica excomungou 848 padres e condenou outros 2.572 clérigos a diferentes punições.
No mesmo ano, o Papa Francisco admitiu o problema da pedofilia da Igreja Católica, afirmando que cerca de 2% de todos os padres, bispos e cardeais tiveram casos de abuso sexual. Na época, o pontífice prometeu encontrar soluções para a questão, mas, quatro anos depois, o Vaticano parece preso ao mesmo problema, sem encontrar solução.