O poeta / profeta José Gonçalves de Medeiros



Salete Pimenta Tavares

            Folheando o livro “400 nomes de Natal”, Coleção Natal 400 anos, coordenado editorialmente por Rejane Cardoso, e publicado em 2000 pela Prefeitura Municipal de Natal entre os inúmeros nomes ilustres de personalidades que fizeram o seu tempo na cidade do Natal, o de José Gonçalves de Medeiros, é um dos que contribuíram para enriquecer e ilustrar a edição do referido livro. José Gonçalves de Medeiros nasceu em Acari, uma das cidades do Estado do Rio Grande do Norte, no dia 18 de dezembro de 1919.
                É o filho mais velho de uma família de doze irmãos. Estudou no Colégio Ateneu, onde iniciou suas atividades literárias, escrevendo para o jornal da Academia de Letras da Instituição. Saiu de Natal para João Pessoa e depois para Recife, onde continuou seus estudos formando-se Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. Teve uma vida intelectual bastante ativa como jornalista, escritor, ensaísta, contista, poeta, e ainda exerceu cargo político no governo do Estado, tendo participado da equipe administrativa do Governador Dix-Sept Rosado. Como ensaísta, contista e poeta publicou trabalhos literários na imprensa pernambucana, mais precisamente no Suplemento Literário do Diário de Pernambuco, tendo integrado o mais famoso grupo literário da cidade, na casa-grande de Gilberto Freire, em Apipucos.
                Em Natal publicou o ensaio “Castro Alves - Amor e Revolução” e deixou inédito um estudo sobre Joaquim Nabuco.
                  No dia 30 de março de 1951, o então governador do Estado do Rio Grande do Norte, Dix-Sept Rosado e alguns membros da sua equipe, viajavam de automóvel para a cidade do Recife, a fim de participarem das festividades de inauguração da Rádio Tamandaré dos Diários e Rádios Associados, quando, nas imediações da cidade paraibana de Taciúma, aconteceu um acidente envolvendo o carro que conduzia o governador Dix-Sept Rosado. Nesse acidente morreram: o Secretário Geral do Governo, Mário Negócio e o empresário Omar Medeiros. Ficaram feridos: José Gonçalves de Medeiros, na época exercendo o cargo de Diretor da Imprensa Oficial do Estado, o Coronel Flamínio, Comandante da RO, José Herôncio de Melo, funcionário da Delegacia Fiscal do Estado e o governador Dix-Sept Rosado.
                Três meses depois desse acidente, o avião das Linhas Aéreas Paulistas, que conduzia o governador Dix-Sept Rosado, numa viagem Oficial ao Rio de Janeiro, então capital do país, caiu no Rio do Sal, proximidades de Aracaju, matando o governador e seus passageiros. Entre eles estavam José Gonçalves de Medeiros e mais dois Secretários do governador. Esse acidente ocorreu no dia 12 de julho de 1951.
            José Gonçalves de Medeiros deixou um poema denominado “Despedida do Pássaro Morto”, datado do dia 27 de junho de 1945, portanto, seis anos antes do acidente fatal. Esse poema mais parece uma premonição do que viria a acontecer. Falando para o amigo Arnaldo Lopes, companheiro de faculdade, pediu para ele guardar esse poema, dizendo que era o seu testamento. O poema é o seguinte: “O vôo também é sensualidade/Estremeço e vibração de pássaro/que possui e penetra o espaço/e era como se possuísse e penetrasse a alma do tempo.//Se eu morrer como pássaro/deixo aos que me amaram, aos que me quiseram e me gostaram /como eu era, o meu sempre e displicente adeus./Estou compreendendo que se morrer num vôo antes de tocar a terra/do mundo, serei como a pena do pássaro ferido de morte./Serei um pássaro de fogo, que vem do céu/ para repousar no seu ninho de areia. // Chorem, bebam, dancem, riam, passeiem,/ pela alma do amigo que não foi pássaro,/ mas morreu como ele”.
           José Gonçalves de Medeiros é nome de rua em Natal e de uma Escola Estadual em Acarí. É necessário portanto que, nomes como o de José Gonçalves sejam lembrados, entre tantos outros que fizeram a história da nossa terra potiguar.

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