O peso das redes sociais nas eleições de 2018


É consenso entre sociólogos e marqueteiros que as redes sociais da internet exercerão um papel fundamental nas eleições de 2018. E se em 2014 e 2016 o Facebook, Whatsapp e Twitter já serviram de trincheiras para os candidatos a cargos eletivos, algumas novidades incorporadas pela reforma política e o próprio crescimento dessas redes indicam que no próximo pleito a situação será ainda mais aguda.
Em uma pesquisa recente divulgada pelo Ibope, a maioria dos entrevistados, 36%, respondeu que as redes sociais são o meio com maior potencial para influenciar seus votos. É a primeira vez que elas assumem a primeira posição como influenciadora de votos – papel que costuma ser ocupado pela mídia tradicional (apontada por 35% dos entrevistados), família ou amigos. Ainda de acordo com a pesquisa, 56% responderam que as redes exercerão “algum grau de influência” em suas escolhas políticas.
Já a tão discutida reforma política, ainda que taxada como discreta por alguns analistas, deve conferir de vez protagonismo ao meio digital. Embora Michel Temer tenha vetado alguns pontos polêmicos, como o artigo que previa a censura automática de publicações nas redes sociais que fossem consideradas “falsas ou ofensivas” a partidos ou candidatos, um ponto fundamental foi aprovado e passa a valer já para as próximas eleições.
Trata-se do artigo que permite o “impulsionamento de conteúdo”, isto é, a contratação de serviços que aumentam o alcance de postagens nas redes sociais e de buscas em sites como o Google, fazendo-as chegar a um maior número de usuários.
Por um lado, a medida pode diminuir o alto custo das campanhas eleitorais, apontado como um dos cernes da corrupção. Por outro, no entanto, traz o risco de aumentar a disseminação das chamadas “fake news”, notícias falsas ou caluniosas intencionalmente divulgadas por grupos politicamente interessados. Foi o que se viu, por exemplo, nas eleições norte-americanas que alçaram Donald Trump à Casa Branca e na consulta popular sobre o Brexit, que resultou na decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Conforme informou um porta-voz do Facebook ao jornal Globo, o debate na plataforma é “positivo para todos”, e medidas estão sendo tomadas para que a rede seja “boa para a democracia”, como a remoção de contas e notícias falsas.
À parte o otimismo de alguns, há dados alarmantes sobre o fluxo de informações na internet em momentos-chave da política. Segundo o levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP, por exemplo, na semana da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados a cada cinco notícias compartilhadas no Facebook três eram falsas.
Antevendo a possibilidade de esse fluxo influenciar negativamente o resultado das urnas, o Tribunal Superior Eleitoral convocou o Ministério da Defesa e as Forças Armadas para monitorar as redes em busca de perfis e notícias falsas. Especialistas alertam, contudo, que esse monitoramento dificilmente dará conta da quantidade massiva de informações que circula nas redes.
Uma das razões para o crescimento desse fluxo é a presença de “robôs” nas redes sociais, programas usados para multiplicar mensagens na internet e que interagem com os usuários reais. Em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo, o professor Marco Aurélio Ruediger, responsável pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, considerou que esses programas são uma realidade na política brasileira, tendo sido largamente utilizados nas eleições de 2014, durante o processo de impeachment de Dilma e na aprovação da PEC do teto dos gastos públicos e na reforma trabalhista, por exemplo.
Para Ruediger, é patente a capacidade destes robôs de “distorcer opiniões e orientar debates para além do que seria o espírito cívico e republicano”. A “atmosfera pesada” de discussões que muitas vezes observamos nas redes, enfim, é, em alguns casos, propositalmente criada por robôs a fim de manipular opiniões.
Andre Torreta, que trabalha com marketing político e recentemente associou-se à Cambridge Analytyca, agência que prestou serviços à campanha de Trump, tem uma visão mais positiva sobre o tema.
Em entrevista ao periódico El País, afirmou que a estratégia da agência, que une um conjunto massivo de informações sobre os eleitores (a chamada “big data”) a abordagens da psicologia comportamental não representa uma distorção democrática. “Estou te enganando? Não, estou apenas entregando o que você quer ver”, disse.
Segundo Torreta, sua agência já foi sondada por dois postulantes ao Planalto, e certamente atuará nas eleições de 2018.